Nietzsche é uma figura emblemática na filosofia moderna, influenciado pelo romantismo alemão de Schopenhauer e Goethe, o poeta cria um modelo de pensamento que rompe e inverte a ideia do que é : a razão, os valores morais e a própria metafísica. O fenômeno nietzschiano manifesta uma estrutura de pensamento que se desenvolve amplamente na filosofia moderna nos pensadores contemporâneos. Neste marco nietzschiano, uma nova ambientação de pensar toma forma e ato. A coragem de subverter a razão tem seu ápice em Nietzsche, assim como o impulso natural (antropocêntrico do homem) de matar a metafísica, negando-a, controlando-a (pela ciência) ou transgredindo-a (na moral, ética ou metafísica). São novas percepções (estas que não seriam favoráveis concluí-las em uma introdução). Isto porque é necessário seguir uma conduta de regras e normas dentro de um texto dissertativo, sejam por estratégias de marketing (para que se leia o texto por completo) ou uma por uma questão de práxis humana a respeito da intelecção textual. Mas, há algo mais profundo a respeito da linguagem e estrutura… que nos remete a Aristóteles, visto que a linguagem, por natureza, se revela como estrutura que organiza e pronuncia uma lógica-racional. Mas afinal, falar de Nietzsche dentro de normas dissertativas de um texto, é falar de Nietzsche? além disso… falar de Nietzsche com chaves de linguagens filosóficas, é falar de Nietzsche? Acredito que um grande estético, como Nietzsche, mereceria uma grande explanação estética e não filosófica para falar de sua estética. A sua estética erudita se apresenta como um conhecimento mais experiencial do que propriamente descritivo e lógico. Este conhecimento pode conter uma lógica particular, que não necessariamente tem um pressuposto de relatar a realidade objetiva. Nietzsche é uma obra de arte, com lógica erudita, articulada em uma atmosfera estética que carrega e reproduz uma poesia com teor de filosofia. A arte de Nietzsche consegue se relacionar, interagir ou até se confundir com a filosofia pura, filosofia enquanto λόγος (logos).
Antes de chegar a Nietzsche, analisaremos os antecessores porque é de suma importância. Constatamos um processo histórico da filosofia para chegar ao marco da morte de Deus. Nietzsche afirma-se como “homem dinamite” e esta bela e complicada combustão de Zaratustra, tem faíscas já presentes no iluminismo. Mesmo que Nietzsche não goste de Kant, este pensador também impactaria a decadência da metafísica para a bomba de Zaratustra explodir! Mas… quando se fala em iluminismo , Rosseau possibilita uma maior abertura para as portas incendiárias do super-homem (em que o romantismo alemão deve muito a ele) .
Rosseau, defende a perfectibilidade do estado natural do homem, os sentimentos começam a ter mais importância que a razão, visto que para Rosseau, a priori, os afetos constroem e movem o mundo antes da razão. Dentro desta desenvoltura de pensar através das emoções acima da razão, o iluminista concebe uma vanguarda literária posteriormente. O romantismo literário de fato, impactaria os moldes do pensamento ocidental. Schopenhauer deu continuidade com maestria, teve um importante papel em retratar as emoções na obra “ O mundo como vontade de Representação”. O corpo é vivenciado por dentro, em um fenômeno de movimento, a mão seria a representação e o movimento a vontade que afirma a existência e interação da própria. A vontade abre alas para que um artista ganhe um valor particular. Antes um pintor da idade média era apenas um pedreiro, artesão, hoje um pintor, poeta entre outros, é um ser diferenciado e esbelto. Em seguida, Nietzsche começa em Schopenhauer e rompe com ele. Ambos concordam que a arte é farmacológica, inspiradora e libertadora. No entanto a arte para Nietzsche não é só a libertação do sofrimento, mas a própria afirmação da vida e da vontade potência e da manifestação do existir que não recorre a uma submissão, mas ao contrário, uma ação como forma de se manifestar e se firmar no mundo. De significar a sua existência sem medo ou dor!
“Toda arte, toda filosofia pode ser vista como remédio e socorro da vida em crescendo ou em declínio: elas pressupõem sempre sofrimento e sofredores. Mas há dois tipos de sofredores, os que sofrem com a superabundância da vida, que querem uma arte dionisíaca, e desse modo uma perspectiva trágica da vida – e depois os que sofrem com o empobrecimento da vida, que exigem da arte e da filosofia silêncio, quietude, mar liso, ou embriaguez entorpecimento, convulsão. Vingança sobre a vida mesma – a mais voluptuosa espécie de embriaguez para acesos assim empobrecidos!” – Nietzsche, Nietzsche contra Wagner
A subversão de Nietzsche é mais uma arte do que propriamente um método sistemático filosófico. A sátira sobre a razão deste franco-prussiano alcança o objetivo esperado. Entretanto, é curioso que grandes artistas correspondem ao quadro clássico da tragédia grega em suas vidas; assim como Van Gogh, Nietzsche só teria maior visibilidade após sua morte. Uma visibilidade infeliz com o nazismo de Hitler ou ocultismo de Aleisteir Crowley, mas também transgressora e produtiva, que abre as portas para psicanálise de Freud, o pós-estruturalismo de Focault, o feminismo de Simone de Beavour ou a fenomenologia filosófica e clínica de Heiddeger.
A arte filosófica de Nietzsche dá forma e auge para novos olhares da realidade. Não como filosofia pura e real (na tarefa desvelar a realidade) no termo grego de( Αλέθεια) Aletheia, mas como uma forma de experienciar a vida sem que haja uma mensuração racional deste campo real de Aletheia. Dentre estas considerações, Nietzsche aborda o espírito que transgride a razão (em que segundo ele) foi limitada por uma relação de desequilíbrio arquetípico do homem. A relação entre Apollo e Dionísio na obra “O Nascimento da Tragédia”. Nietzsche não é só uma arte erudita de subversão (arte enquanto significado de técnica) , mas além da arte de conteúdo filosófico, a maestria do escritor está na habilidade de articular a sua filosofia em uma dança que se pronuncia forma de prosa. Mas Nietzsche era realmente um filósofo? ou um poeta erudito?. Em termos filosóficos a estruturação do pensamento de Nietzsche é falha, mas em termos poéticos é espetacular. A poesia é mais perigosa que a filosofia neste sentido, porque esta causa sintomas de imersão ou transgressão, sem a necessidade de se comprometer a uma razão objetiva. Nietzsche não tem compromisso com a razão e nem faz questão, ao contrário, o mundo de Nietzsche é totalmente invertido. É uma ‘’filosofia’’ que engole a própria filosofia, como um ouro-boros. Poeticamente falando, ele tem uma estética genuína que manifesta um sistema de pensamento e de prática subjetiva, mas não objetiva. Filosoficamente falando, a sua estrutura de pensamento não compreende e nem estabelece um sistema racional tangível, com coerência e comprovação no campo real. A hermenêutica de Nietzsche na “Genealogia da Moral” constata um conceito de moralidade senhor-escravo, em que os fracos criam artimanhas metafísicas para controlar e estabelecer uma forma de domínio e poder, das quais eles regozijam a vitória ela força e controle. Porque são fracos, são escravos com medo, mas perspicazes em limitar os seres por um arcabouço religioso-racional-platônico. Escravos de uma falsa potência, que se potência em detrimento da redução de uma verdadeira potência do outro. A potência real do ser, sua expressão singular e natural é controlada por uma moral e uma metafísica que adormece um possível senhor, escravizado. Sendo, assim, a potência do cristianismo seria reduzir a potência daqueles que o seguem, então surge o niilismo negativo. Contudo, é inteiramente constituída em uma falácia genética. A razão de uma gênese sobre um objeto, não necessariamente justifica ou não comprova a sua ineficácia (em relação ao seu devir).
Importante ressaltar que os apontamentos aqui mencionados se devem a filosofia e não propriamente a poesia. A estética de Nietzsche é algo inspirador que motiva o conhecimento, o questionamento , a crítica e a psicologia humana. Esta poesia Nietzschiana não poderia morrer, mas a filosofia também não pode morrer