terça-feira, 12 de julho de 2022

Tempo e maturidade na visão da fenomenologia

TEMPO E MATURIDADE 








As crianças enxergam coisas que às vezes nem os adultos veem, quem é o mais maduro? Para Focault temos uma impressão que a maturidade carrega uma linha temporal reta, a infância é visto de um aspecto não evolutivo. Tenho a impressão  que a totalidade do ser na sua maturidade expressa um caráter circular, onde há a interação do eu pequeno, com o eu atual.

Ignorar o passado ou superar uma vergonha que incomoda é o oposto de investigar e aceitar a imprudência, que de algum modo foi necessário para haver prudência. Aquele passado fez parte do ser, julgar bom ou ruim diante das causas e condições  para as quais aquilo existiu enquanto fenômeno; seria atrevimento do homem diante da compreensão colossal do cosmos, das coisas e da sua própria formação. Não é necessário "superar" um amor ou uma infância, mais aceitar aquilo que foi, sentir e procurar formas criativas e únicas do indivíduo para aceitar o que é, o que foi, e o que quer ser. Aceitar é um trabalho de honestidade consigo, e admitir mas não se render. O passado é uma constante comunicação com ser presente, e o vir-a-ser futuro. 


O que é lúdico e abstrato tem aspectos das características infantis, que podem brilhar quando aplicadas pela experiência do tempo. Não é superado e sim recolocado, ressignificado pelo desenvolver do "eu", com as coisas, causas e sentidos. 


Para ser comediante, poeta, músico, romântico, criativo é preciso ser um pouco infantil, ou até patético (no bom sentido). Para ser idealista de um mundo melhor, com ações sejam políticas ou individuais, é preciso ter um pouco ingenuidade de criança. 


Lecionar, trabalhar ou educar crianças seria um trabalho de renovação aceitação  da criança interna. Requisita ao educado algo de infantil, o suficiente para sustentar o caráter de amor e admiração a quem é educado. Parecendo infantil positivamente, remove obstruções e cria significados na existência do educador seja ele pai, professor, etc... 


Traz o que lhe é o humano, forma o humano, dá leveza à vida. O recalque do paciente com raiva e sem paciência com crianças revela um ego afetado e não trabalho. Às vezes corresponde a mesma idade da criança que o incomodado perpassou.


" A criança pode manifestar compreensão profunda da realidade. Talvez as restrições que percebemos na criança não sejam apenas limitações próprias do período de infância, mas também  correspondência à expectativa que temos das crianças. Delas não esperamos nada sério [...]. Outra mãe extremamente organizada, tem uma filhinha que não é nada ordeira. Um dia ela pediu para a filha pegar uma lancheira, mas a menina não encontrava. A mãe começou a dar bronca. 'Não é possível, você vive perdendo as coisas [...] o que é que vai ser amanhã?' . Quando ela parou para tomar o fôlego, a filha disse : " Você também perde!. Essa afirmação da menina era um terror para ela, tão organizada [...]. A mãe retrucou  ' eu perco?'. E a menina : 'É você perde' (...) você perde a paciência'. Esse tipo de apreensão instantânea e imediata corresponde a um momento de maturidade, independente das características peculiares."

Na presença do sentido, tempo e maturidade. pp 123 - 124)



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