quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

O VOO DE NIETZSCHE: ÍCARO OU SUPER HOMEM?



Nietzsche é uma figura emblemática na filosofia moderna, influenciado pelo romantismo alemão de Schopenhauer e Goethe, o poeta cria um modelo de pensamento que rompe e inverte a ideia do que é : a razão, os valores morais e a própria metafísica. O fenômeno nietzschiano manifesta uma estrutura de pensamento que se desenvolve amplamente na filosofia moderna nos pensadores contemporâneos. Neste marco nietzschiano, uma nova ambientação de pensar toma forma e ato. A coragem de subverter a razão tem seu ápice em Nietzsche, assim como o impulso natural (antropocêntrico do homem) de matar a metafísica, negando-a, controlando-a (pela ciência) ou transgredindo-a (na moral, ética ou metafísica). São novas percepções (estas que não seriam favoráveis concluí-las em uma introdução). Isto porque é necessário seguir uma conduta de regras e normas dentro de um texto dissertativo, sejam por estratégias de marketing (para que se leia o texto por completo) ou uma por uma questão de práxis humana a respeito da intelecção textual. Mas, há algo mais profundo a respeito da linguagem e estrutura… que nos remete a Aristóteles, visto que a linguagem, por natureza, se revela como estrutura que organiza e pronuncia uma lógica-racional. Mas afinal, falar de Nietzsche dentro de normas dissertativas de um texto, é falar de Nietzsche? além disso… falar de Nietzsche com chaves de linguagens filosóficas, é falar de Nietzsche? Acredito que um grande estético, como Nietzsche, mereceria uma grande explanação estética e não filosófica para falar de sua estética. A sua estética erudita se apresenta como um conhecimento mais experiencial do que propriamente descritivo e lógico. Este conhecimento pode conter uma lógica particular, que não necessariamente tem um pressuposto de relatar a realidade objetiva. Nietzsche é uma obra de arte, com lógica erudita, articulada em uma atmosfera estética que carrega e reproduz uma poesia com teor de filosofia. A arte de Nietzsche consegue se relacionar, interagir ou até se confundir com a filosofia pura, filosofia enquanto λόγος (logos). 

Antes de chegar a Nietzsche, analisaremos os antecessores porque é de suma importância. Constatamos um processo histórico da filosofia para chegar ao marco da morte de Deus. Nietzsche afirma-se como “homem dinamite” e esta bela e complicada combustão de Zaratustra, tem faíscas já presentes no iluminismo. Mesmo que Nietzsche não goste de Kant, este pensador também impactaria a decadência da metafísica para a bomba de Zaratustra explodir! Mas… quando se fala em iluminismo , Rosseau possibilita uma maior abertura para as portas incendiárias do super-homem (em que o romantismo alemão deve muito a ele) . 

Rosseau, defende a perfectibilidade do estado natural do homem, os sentimentos começam a ter mais importância que a razão, visto que para Rosseau, a priori, os afetos constroem e movem o mundo antes da razão. Dentro desta desenvoltura de pensar através das emoções acima da razão, o iluminista concebe uma vanguarda literária posteriormente. O romantismo literário de fato, impactaria os moldes do pensamento ocidental. Schopenhauer deu continuidade com maestria, teve um importante papel em retratar as emoções na obra “ O mundo como vontade de Representação”. O corpo é vivenciado por dentro, em um fenômeno de movimento, a mão seria a representação e o movimento a vontade que afirma a existência e interação da própria. A vontade abre alas para que um artista ganhe um valor particular. Antes um pintor da idade média era apenas um pedreiro, artesão, hoje um pintor, poeta entre outros, é um ser diferenciado e esbelto. Em seguida, Nietzsche começa em Schopenhauer e rompe com ele. Ambos concordam que a arte é farmacológica, inspiradora e libertadora. No entanto a arte para Nietzsche não é só a libertação do sofrimento, mas a própria afirmação da vida e da vontade potência e da manifestação do existir que não recorre a uma submissão, mas ao contrário, uma ação como forma de se manifestar e se firmar no mundo. De significar a sua existência sem medo ou dor! 

“Toda arte, toda filosofia pode ser vista como remédio e socorro da vida em crescendo ou em declínio: elas pressupõem sempre sofrimento e sofredores. Mas há dois tipos de sofredores, os que sofrem com a superabundância da vida, que querem uma arte dionisíaca, e desse modo uma perspectiva trágica da vida – e depois os que sofrem com o empobrecimento da vida, que exigem da arte e da filosofia silêncio, quietude, mar liso, ou embriaguez entorpecimento, convulsão. Vingança sobre a vida mesma – a mais voluptuosa espécie de embriaguez para acesos assim empobrecidos!” – Nietzsche, Nietzsche contra Wagner 

A subversão de Nietzsche é mais uma arte do que propriamente um método sistemático filosófico. A sátira sobre a razão deste franco-prussiano alcança o objetivo esperado. Entretanto, é curioso que grandes artistas correspondem ao quadro clássico da tragédia grega em suas vidas; assim como Van Gogh, Nietzsche só teria maior visibilidade após sua morte. Uma visibilidade infeliz com o nazismo de Hitler ou ocultismo de Aleisteir Crowley, mas também transgressora e produtiva, que abre as portas para psicanálise de Freud, o pós-estruturalismo de Focault, o feminismo de Simone de Beavour ou a fenomenologia filosófica e clínica de Heiddeger.

A arte filosófica de Nietzsche dá forma e auge para novos olhares da realidade. Não como filosofia pura e real (na tarefa desvelar a realidade) no termo grego de( Αλέθεια) Aletheia, mas como uma forma de experienciar a vida sem que haja uma mensuração racional deste campo real de Aletheia. Dentre estas considerações, Nietzsche aborda o espírito que transgride a razão (em que segundo ele) foi limitada por uma relação de desequilíbrio arquetípico do homem. A relação entre Apollo e Dionísio na obra “O Nascimento da Tragédia”. Nietzsche não é só uma arte erudita de subversão (arte enquanto significado de técnica) , mas além da arte de conteúdo filosófico, a maestria do escritor está na habilidade de articular a sua filosofia em uma dança que se pronuncia forma de prosa. Mas Nietzsche era realmente um filósofo? ou um poeta erudito?. Em termos filosóficos a estruturação do pensamento de Nietzsche é falha, mas em termos poéticos é espetacular. A poesia é mais perigosa que a filosofia neste sentido, porque esta causa sintomas de imersão ou transgressão, sem a necessidade de se comprometer a uma razão objetiva. Nietzsche não tem compromisso com a razão e nem faz questão, ao contrário, o mundo de Nietzsche é totalmente invertido. É uma ‘’filosofia’’ que engole a própria filosofia, como um ouro-boros. Poeticamente falando, ele tem uma estética genuína que manifesta um sistema de pensamento e de prática subjetiva, mas não objetiva. Filosoficamente falando, a sua estrutura de pensamento não compreende e nem estabelece um sistema racional tangível, com coerência e comprovação no campo real. A hermenêutica de Nietzsche na “Genealogia da Moral” constata um conceito de moralidade senhor-escravo, em que os fracos criam artimanhas metafísicas para controlar e estabelecer uma forma de domínio e poder, das quais eles regozijam a vitória ela força e controle. Porque são fracos, são escravos com medo, mas perspicazes em limitar os seres por um arcabouço religioso-racional-platônico. Escravos de uma falsa potência, que se potência em detrimento da redução de uma verdadeira potência do outro. A potência real do ser, sua expressão singular e natural é controlada por uma moral e uma metafísica que adormece um possível senhor, escravizado. Sendo, assim, a potência do cristianismo seria reduzir a potência daqueles que o seguem, então surge o niilismo negativo. Contudo, é inteiramente constituída em uma falácia genética. A razão de uma gênese sobre um objeto, não necessariamente justifica ou não comprova a sua ineficácia (em relação ao seu devir).

Importante ressaltar que os apontamentos aqui mencionados se devem a filosofia e não propriamente a poesia. A estética de Nietzsche é algo inspirador que motiva o conhecimento, o questionamento , a crítica e a psicologia humana. Esta poesia Nietzschiana não poderia morrer, mas a filosofia também não pode morrer

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

A História secreta de Odin



Uma vez um velho sábio, caolho, me mostrou uma história e disse que deveria contar aos homens. Este velho é conhecido entre muitos nomes: Wotan, Wotanaz, Woden, Othinn, Bolverk, Grimnir, Hanga e Ygg, chefe dos Aesir; Odin.

Para que prossiga com a história, alguns esclarecimentos são necessários. O porquê desta história que não existe na história (mas que esta na história?) Afinal o velho não desperdiça seu tempo, tudo o que faz tem um proposito, e como um Aesir, ele espera que seja de bom uso seus conhecimentos transmitidos para aqueles que seguem a antiga fé escandinava, mas, ao mesmo tempo, ele não gosta de ovelhas, cabresto, religião ou seguidores.

Por que Odin me contou? porque minha boca fala mais do que deveria e meus ouvidos escutam menos do que deveriam. Boca falante e ouvido surdo é temperamento Lokiano (Deus Loki) não escuta, é teimoso, fala groselha, prega discórdia, tira um sarro da vida como um bobo da corte. Quer inverter o mundo de ponta cabeça. O bobo da corte ainda, sim, é um mentor do rei, a piada tem seu valor, tem sua magia particular. Entre o sarcasmo e a loucura há uma linha tênue, este arquétipo pode cair facilmente em aspectos da sombra e da escuridão do mundo. Talvez eu não esteja pronto para trabalhar com a ironia. 

Wotan disse "A boca que fala é a mesma que amaldiçoa os outros e a si ( em triplo ) , não precisa disso filho, o mundo já tem muita praga e maldição nas palavras ditas em jornais ou até nas filosofias que você estuda, você é um ser de luz, um guerreiro!  com uma grande sombra ( que todo berseker precisa). Ela também te ajudará, mas não a deixe dominar sua alma, você é de Asgard, não se esqueça"

Então Odin me pediu para contar este ritual secreto que os vikings faziam.

E essa música  também para contar a história : 




Na época de ouro, em que a tradição nórdica era pura, sem adulteração do que chega hoje para nós (sem conversão do cristianismo) sobre a antiga fé deste povo. Nesta época as famílias formavam um clã gerenciado pelo rei ou Jarl.

Quando um clã entrava em conflito com outro, a guerra espiritual era muito sangrenta. Muitas famílias faziam magias com seidr, amaldiçoavam as outras com palavrões mágicos e runas sombrias, das quais não temos acesso hoje porque ele baniu desta terra, alguns ocultistas tentaram resgatar este tipo de magia, mas eles não tem acesso por completo. Essa runa sombria é pior que runa invertida, só os oráculos tinham acesso a este conhecimento do qual Odin não os tirou. A maldição percorria nas gerações futuras, alguns bebes nasciam defeituosos, esquisitos, coisas muito feias que não posso falar. Os nórdicos jogavam estes bebes em  lagos, matavam e retribuíam o favor na mesma moeda. A brutalidade não era o objetivo do velho.



Ele disse

"Filho, eu  não me sacrifiquei em na Yggdrasil durante 9 dias para trazer isso ao meu povo,esperava mais, colher frutos, alegria e paz" . Ao dizer isso uma lagrima caiu sobre único olho, mas só uma porque Odin não fica preso no ressentimento e no passado, depois se foi.

Então em uma noite ele apareceu em forma de sonho para todos os escavinados da antiga fé.  Sentado em um trono onde não havia mais nada, só ele uma luz amarela sobre seu trono e a escuridão em volta. Não conseguiam ver seu rosto apenas seu olho brilhando, seu elmo e seu corpo. Então Odin pronunciou

"Vocês não veem meu rosto, não é? Porque estão obscurecidos, minha face é olhar da verdade e quando se carrega maus espíritos este olhar não pode me olhar. Isso porque vocês não merecem ver meu rosto, muito menos merecem ter acesso ao conhecimento que lhes entreguei. Qualquer maldição que soltarem em suas bocas será punição severa e se não for seguido a risca, minha fúria cairá sobre todos. As guerras podem continuar porque é o espírito de nosso povo conversar batalhando e sorrindo para morte! com honra! mas se houver alguma maldição as coisas vão ficar sérias. Vocês são vikings não precisam de magia, vão para guerra se não concordam entre si"

A partir deste dia, quando um clã entrava em conflito com outro e amaldiçoava-o, a pessoa que soltou o feitiço, seja pela boca, seidr ou pela runa sombria teria que fazer um ritual de purificação. Se sobrevivesse o ritual seria digno de continuar abençoado em dobro, se não morria e a alma se desfragmentava, é pior que uma alma penante. Os fragmentos ficariam espalhados pelo universo e os compostos da alma eternamente entrariam em desespero procurando se juntar ao seu todo. As consciências da alma ficariam conturbadas, confusas em agonia pela eternidade. Alguns destes ele teve misericórdia e corrigiu, 20% pode se dizer foram salvos após fragmentados.

Como funcionava o ritual?
 
Havia um balde de metal entalhado com todas as runas de forma circular, no centro a runa "Hagalaz" runa destruição, da morte. Assim, destruindo todo composto corrompido, a Hagalaz oblitera este mal do individuo que amaldiçoa o outro, principalmente o seu povo.

Nesta runa central eles acendiam o fogo neste balde. O cidadão teria que abrir a boca e no céu dela os oráculos entalhavam (como se fosse tatuar) a runa Hagalaz. Ele podia sofrer no entalho, só não ficar chorando muito de dor e nem desmaiar.  Se isso acontecesse, a alma se desfragmentava. Em segunda instância, logo após a cicatriz hagalaz presente no céu da boca, este individuo teria que abrir o máximo que pudesse e colocá-la em frente ao balde com fogo. O fogo queimaria a boca. Geralmente os que sobreviviam não podiam mais falar, e ficavam com a boca queimada para sempre, da boca, do céu dela até a garganta. É como se fosse engolir o fogo e sobreviver a isso. Alguns conseguiram falar com tempo, se tivessem tal mérito, outros nunca mais falariam.

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

A Mulher Dos Olhos Sinceros


























Ela não mente, só é uma mulher única e presente que não se revela gratuitamente. 
Não quer transparecer, aparece no entardecer (somente para quem merecer ver)

A atração começa no olhar (mas esqueça o clichê ) porque isso pode entediar.
Ela não quer um príncipe encantado e nem um vilão amaldiçoado.
Procura o verdadeiro olhar, sem pomposidade ou asquerosidade.
Olhar da verdade, da humanidade e particularidade.

Qual é a verdade por trás do animal da humanidade?
Um animal é humano? Ou um humano é animal?
Existe humanidade para um animal de verdade?

Palavras são jogos de crianças que precisam de confianças e esperanças.
Animalidade e humanidade são palavras vazias de verdade.

O seu olhar deseja a verdade, sem definições e suposições.
Você causa alarde, é o caos, a harmonia e a liberdade.
Supera a maldade dos que defendem "a verdade".
Nós sabemos a verdade.

Fogo da destruição, transmutação e criação. Sem descrição, definição ou aprovação. Fogo da consagração e da profanação; fogo da imersão e da transgressão. 

Você deseja as luzes e as trevas dançando sem roupas, sem vergonhas, barganhas ou tréguas. Você deseja um olhar sem maquiagem ou libertinagem. Não é tão simples desejar uma mulher peculiar, mas eu gosto de me preocupar em roubar seu olhar.

Com calma, você lê o fogo da alma, procura intensidade porque quer o fogo da verdade e também da maldade. Adoro me desafiar, alcançar a temperatura do seu olhar (fenômeno que quebra o termômetro) Fenômeno que transpassa o limiar, porque não queremos só "amar" "por amar", queremos desejar, apaixonar, entregar. Amar é a primeira e última questão, porque não queremos amar, caminhamos para amar, mas já nos amamos quando caminhamos. Porque amar é o fogo que não pode apagar, o fogo... tem que sempre alimentar. 

Você quer a carne e o espírito, quer o atrito que presencia a alma, a matéria e o lírico. Você não quer nem o céu ou inferno,você quer algo interno e não externo.

No amanhecer você me faz agradecer (tipo a merda de um comercial de margarina) 

No entardecer você me faz desabafar e me desmascarar.

No limiar da meia-noite, sinto seu açoite, sexual e peculiar.

Você facilmente se desinteressa, porque é uma mulher que expressa sem pressa.
Você é uma mulher peculiar que não aceita um vacilo no verdadeiro olhar.
Sua alma se revela a mim, você tem um vestido vermelho de cetim. 
Você dança de forma cigana, a mim você não me engana hahaha!

"O fantasma da ópera está,  dentro de ti"

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Édipo no existencialismo


A tragédia de Édipo sob um olhar fenomenológico

Livro - Na presença do sentido: Uma aproximação fenomenológica a questões existenciais básicas.

Capítulo 4: Culpa e desculpa ( pp 87 – 102) 

É bem possível que as coisas vivas (homens, animais, plantas) só existam porque há uma finalidade que concede um significado, a sua presença de existir no mundo. Uma ‘’causa final’’ (No sentido de cumprir papéis com finalidades) como uma engrenagem dentro de um motor.  Este motor gera vida, movimento e razão de existir, logo a existência só existe porque precisa de um significado para tal, consiste em uma funcionalidade da peça, dentro de um motor. No entanto o agente define o local para inserir esta peça, como ela funcionaria e qual o seu sentido dentro dele.  Podemos pensar: A peça (o ser que existe) com funcionamento adjacente ao motor (o mundo), assim a peça cumpre o papel de forma que o motor não altere sua natureza, mas que a sua própria natureza se altere e viva dentro este motor, contudo a peça tem certas predisposições para seu funcionamento (ela não poderia ficar pedida, sem funcionalidade). Uma razão é necessária para atribuir sua existência enquanto a peça (o ser) que age em um motor (mundo). Seria a participação no mundo ( peça que se move, vive, experiência) . Assim constatamos que ‘’a existência existe’’ porque procura a sua causa final, o seu significado. E aqui consideramos que a causa final não necessariamente requer um motor para que funcione a priori, mas a peça essencialmente carece de uma finalidade que dê sentido a sua forma, presença e existência no mundo. A peça precisa primeiramente se descobrir, para que possa firmar e autorizar sua presença no mundo de forma satisfatória, ou seja neste motor. Tudo que existe tem um motivo, uma vocação, um encontro de significado para que possa presenciar. Ou seja, o que faz o ser genuinamente existir é a sua criação dentro da criação, a procura, o encontro a finalidade. Uma espécie de sustentamento de existência. dentro ou fora do motor. Como uma “coloríficação de um desenho preto e branco”. Preto e branco porque existe enquanto forma, mas não enquanto ato (arte finalizada completa). O ato (finalizar a arte de uma forma) revela a forma como genuína. Este ato ‘’colorífica’’ uma forma (que necessita de uma cor) sua ação é o modo de existir por trás de um motivo – a vida e coloração da forma). Ela quer presencias sua arte, não ser apenas uma forma sem cor, para que assim possa contemplar a si e o que lhe apresenta, o externo. Uma arte que contempla a sua interação e participação no mundo, mas que também contempla sua própria arte por criação. Ou seja, a forma sem cor não tem destaque, presença ou vida. Vive em posição de forma, mas não em posição de arte, é um desenho vazio de presença e vida. Um esboço por esboço é viver uma forma morta, sem cor e significado. Caso contrário o resultado produz com esboços mortos, vivos enquanto forma e mortos enquanto arte não finalizada. As formas não finalizadas não possibilitam sua harmonia no vivenciar de si mesmas, assim como dos ‘’entes’’ que interagem e observam elas. Já os animais são desenhos que já nascem com esboço e com as cores, porque estão mais próximos da sua natureza pelas suas delimitações racionais que não possibilitam escolhas. O que diferencia o homem do animal é a possibilidade de escolha e encontro a sua criação como ser, ser e  “vir a ser”.  Mais que isso, qual a cor correta para si mas que também carece em uma harmonia com o mundo. Diferente de animais que já são o esboço, cor e finalização por si só.  Em suma, o que “traduz” a existência é o significado, sentido e a presença. Simultaneamente um dependeria do outro pela “causa final”, o acabamento da arte.  Esta causa que mantém as coisas existindo e presenciando e interagindo com outras coisas. Talvez essa seja uma das grandes problemáticas do ser humano enquanto existir, ser e interagir. Nós existimos mas temos dificuldades de saber presenciar a nossa existência, porque não encontramos esta “causa final”.  O próprio pensar subjetivo pode  nos confundir com o “nosso pensar no sentido”. Nem sempre o pensamento é intrínseco,  muitas vezes se elabora por uma estrutura artificial (motivos externos de inserção das experiências não autônomas. Poderiam ser: coletivas , famíliares, religiosas ou morais, assim como o aspecto biopsicossocial.) Mas além do fator externo, existe também o distanciamento interno, é possível haver uma dificuldade de descobrir e atribuir uma cor para um esboço vazio por si só.  Podemos nos confundir com o ser, que deixa de presenciar e legitimar sua vida. 

“Para ser o ser”, é preciso avançar as camadas internas do próprio pensamento pela percepção e reflexão. Afinal se somos seres racionais a razão pressupõe uma finalidade de reflexão que incitaria uma causa final como presença e essência. Aqueles que não refletem mas vivem sem atribuição de sentido possibilitam dois cenários : manifestação  de uma pessoa morta por falta de descoberta individual; ou a confusão do ser por uma aquisição do pacote externo que não o pertence, mas que o reflete por não refletir. Estes seriam os esboços sem cores (ou esboços com falsas cores), um falso artista de sua vida, alienado  por preguiça ou falta de autonomia no pensar. Sem inspiração para colorir a sua vida, este artista apenas copia a moda ou deixa de pintar, vive o esboço mas não a forma completa em totalidade.  E aqui é um ponto a se perguntar: Qual é a alma que não anseia em de desenhar e colorir? A vida anseia o desenho e a coloração, o ato e a potência, a razão e o significado, o ser, presenciar e o vir a ser... a causa final do ser.

A tragédia grega transpõe a necessidade humana sobre a demanda do sentido. Na mitologia temos a perseverança dos heróis no papel e no propósito mesmo sabendo que o final tende ao trágico. A virtude da alma como significado, a marcação feita pela pulsão, Ἔρω” (eros). Afinal, é melhor ser lembrado do que esquecido, não é?  E como ser lembrado? Os gregos sabem sorrir para angústia, porque ela também dá um significado a existência. São artes com finalidades peculiares, paradoxalmente angustiadas e vivas pela angústia (esta que causa o sentido de suas cores). É melhor sentir angústia do que não sentir, não significar. A angústia faz o trabalho certo, ela cutuca a sua arte, questiona seu acabamento, move seu instrumento (pincel) para que possa procurar possibilidades e interpretações e representações (representar minha arte para mim e para o mundo). Os heróis vivem tal angustia com dignidade e heroísmo. Possuem a compreensão do trágico, sofrem pelo trágico, mas ainda alimentam o sonho, sentido e vontade de viver. Mesmo que o sentido não possa existir na forma (porque existe um final trágico determinante) ainda assim, eles existem e permanecem em sonhos. Mesmo que estejam impedidos de pintar seus esboços ainda conseguem pintar a forma pela imaginação, assim a forma vive mesmo que no âmbito do sonhar; o sonho como vontade de vida já significa a vida (enquanto existir) mesmo que não realizado no campo do real.  Sonhar é nutrir a vida, sem sonho não há vida, sonho é pulsão, desejo, alma, intuição, vocação e sentido. O sentido só pode existir porque carrega um sonho, uma possibilidade que gera significado a existência , logo, uma procura pela causa final ( uma coloração, ou razão de funcionamento da peça perante um motor) 

Por estas conclusões visualizamos a grande problemática do ser humano no campo do existencialismo, O mito de édipo por excelência elucida o cenário em uma visão fenomenológica do sentido.  

É possível que nosso herói seja um dos mais mal afortunados de Sófocles comparado com as habilidades de outros heróis como: Herácles, Aquiles, Perseu e Teseu. Ele tinha pés tortos, foi um filho rejeitado e logo cedo inicia a sua história marcado por uma maldição. Um protagonista de uma jornada perdida e determinada por um final soturno e desamparado. Para Édipo, não podemos dar a culpa ou julgamento nos atos percorridos, ele fadava-se ao destino sem a possibilidade de escolhas, que inclusive fez as escolhas para evitar o destino. Uma vida que não acarreta decisões deixa de ser livre por definição. Ele poderia procurar a absolvição pedindo desculpa aos seus atos. Todos sabiam que o caminho deste ser foi trilhado pela intenção justa e íntegra. Sobretudo Édipo vive uma história sem muita performance “heroica” diferente dos outros heróis clássicos.  Afinal, o que o manteve vivo, um ser que sofre um percurso direto ao abismo, infortunado e desgraçado?  É provável que uma das respostas consista na sua capacidade de compreender uma realidade enfadonha e ainda sim dar um sentido particular a esta realidade (mesmo sabendo o final). Neste extremo qualquer ação externa ou metafísica poderia determinar ‘’o ser’’, no entanto, mesmo que ‘’o ser’’ seja agente passivo desta ação determinante; a única coisa que realmente poderia determinar o agente (o ser) é a sua permissão enquanto ‘atribuir sentido’’ e “criar presenciamento” particular desta realidade e interação que o determina. Assim, a atribuição criada pelo ser ( no seu existir, significar e presenciar) ganha uma representação que leva o embate ao destino trágico. O ser pode criar seu próprio sentido como uma projeção única que dê força e significado mesmo havendo uma determinação externa como contraponto. Porque o ser precisa ser o que é para sustentar o seu “ser no mundo”. 

Deste modo, os autores do livro salientam a persistência e o sentido de nosso trágico Édipo durante uma passagem: 

“Trazer para si essa culpa equivale a dizer que ele

não quer ser um fantoche dos deuses. Afastar a culpa

seria, implicitamente, admitir que o homem não conta

nessa história, o que conta é só o destino. 

“Ao sofrer a prescrição dos deuses ele admite a culpa, o que consequentemente não o faz aceitar o destino dos deuses que tentaram determina-lo. Se Édipo transferisse esta culpa ao destino (como uma consequência inevitável) tal ação daria força e razão para os deuses. Como se o destino fosse forte o suficiente para deixa-lo preso, porque ele mesmo não teria autonomia para se conscientizar sobre a falha, já que esta falha se apresentaria algo suficientemente inexorável a ponto de absolve-lo de sua responsabilidade. Esta Responsabilidade pressupõe autoria, conscientização, sentido e significado.  Após ser expulso de Tebas vira um andarilho mendigo, com o passar do tempo se torna um sábio. A continuação da tragédia de édipo acaba em Antígona, sua filha do qual caminhava acompanhado. Chegando em Atenas eles param em Colono. Lá ele pede às deusas para que acabasse com sua jornada por ali" (pp 98)

"Não me hostilizeis

nem ao deus Febo, pois ele proclamou

o meu destino cheio de infelicidade,

disse que este lugar seria meu refúgio,

depois de errar por muitos anos, ao chegar

a este solo onde acharia finalmente

um paradeiro acolhedor, ainda que fosse

para encerrar aqui a minha triste vida"

“Nesse momento de sua vida, Édipo sente-se íntegro de novo: é sua a falta cometida; é sua a infelicidade que dela decorreu; é seu o sofrimento pelo castigo que ele mesmo se impôs. Em tudo isso ele está inteiro, e, agora, mais uma coisa se integra à sua vida: a aceitação de sua não-onipotência. Ouvimos em seu diálogo com o coro” (pp. 99)

‘’Édipo: Sucessão de inúmeras desgraças!  

Coro:  Sofres te!

Édipo:  Sim, males inolvidáveis! 

Coro: Pecas te! 

Édipo: Não! Eu não pequei! (...)

Coro: Matas te!. 

Édipo :  Sim, matei; tenho entretanto... 

Coro : O quê? 

Édipo : Algo para justificar-me

Coro : Mas como? 

Édipo : Digo-te - Quando o matei e massacrei agia sem saber. Sou inocente diante da lei, pois fiz tudo sem premeditação.

“Não afastou de si a culpa, quis responder por suas ações e, agora, aceita também que não sabia tudo, não era onipotente. É quando se aproxima o momento em que será resgatado pelos deuses. Então, senta-se próximo à fenda de uma rocha que era a entrada para o mundo dos mortos. Com a água que suas filhas lhe trazem, lava-se, faz libações e veste-se com roupas cerimoniais. Antígona e Ismene saem quando os trovões começam a reboar. Apenas Teseu permanece com ele [...] A morte de Édipo qualifica-o como herói. Ele é herói porque se recusou a tomar a realidade como única referência. Do contrário, não haveria razão para contarmos esta história até hoje. (pp101)

“Mas o que os deuses homenageiam num herói fracassado, que termina a vida cego por suas próprias mãos? Homenageiam a história, na qual eles não são onipotentes, já que a história é uma questão de significados, é costura, é coisa humana. Significado só pode ser dado por alguém que sonha. (Os deuses não podem sonhar porque são oniscientes; já há um saber, não há risco, e todo sonho é um risco.)”  (pp101)


O Sísifo de Albert Camus


A força do existir é o sentido!  mesmo que este esteja em um percurso estreito. Outro exemplo é o mito de Sísifo com a interpretação existencial de Albert Camus. Mesmo ele sabendo que a pedra voltaria, Sísifo manteve sua existência e presença em ação. Algo o impulsionava, ainda que tivesse que viver as consecutivas repetições de levantar uma pedra que cairia todos os dias. Se a vida é ou nos aparenta como “algo absurdo”, seja por determinação ou qualquer contingencia externa, ainda somos livres para criar nosso próprio sentido em relação a ela. O que faz existir é o sentido, o sonho e a causa final. Quem escolhe experienciar o ser é o próprio ser. O externo só afeta o existir mediante a permissão do ser, o sentido que este ser atribui em reação ao fenômeno externo, o nível de ação e passividade na interação de sua presença no mundo.

“A história não é o somatório de fatos mas sim a busca do que é significativo, de acordo com a possibilidade que a compreensão humana tem, em cada momento, de abarcar a totalidade deles” (pp 97)

POMPEIA, João; SAPIENZA, Bilê. NA PRESENÇA DO SENTIDO: Uma aproximação fenomenológica a questões existenciais básicas. São Paulo,2004

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Estoicismo - A fortaleza impenetrável de compreensão e virtude

 




Estoicismo vem da palavra grega “stoá” que significa pórtico (aqueles que ficam embaixo do arco),  local onde surgem os primeiros pensamentos desta corrente. Fundada por Zenão de Cítio, o estoicismo surgiu no período helenístico, orientado por um pensamento que rompe radicalmente com a ideia de pólis. A pólis que vivia no âmago do cidadão grego no qual se centralizavam as atividades filosóficas, políticas e culturais. Não era mais um princípio para o estoicismo (e outras correntes helenísticas). A verdade não está mais no coletivo, não pode ser alcançada por um coletivo e nem mesmo age ou revela-se sobre ele, mas sim individualmente. A primazia da verdade estoica é o bem-estar da alma, a saúde e o equilíbrio possível e até o distanciamento político. A diplomacia e a tentativa de manter uma pólis organizada pode causar perturbação e tende a ser instável. Como diz de Epíteto: "De todas as coisas existentes, algumas estão sob o nosso poder, outras não”. A sabedoria estoica neste caso, é ter  consciência e maturidade para perceber que a conivência com o sofrimento reside na tentativa de controlar alguém, algo ou o estado. Expectativa, desejo e controle  geram frustração. A pólis significava procurar a felicidade pelo bem-estar comum, no entanto, para Epiteto e outros pensadores não se deve buscar a felicidade fora, mas sim dentro.

O estoicismo teve maior difusão no império romano através de Sêneca, Marco Aurélio e Epiteto e Cícero (que traduziu a filosofia  para o latim). Apesar da linha filosófica acometer na ideia do bem-estar coletivo,  de um estado como uma causa final e não individual. A ontologia estoica entende o mundo gerenciado por um logos (razão universal) ordenado que controla todo cosmos (universo). Tudo que acontece, acontece por uma razão, cada um tem o papel a cumprir, um devir, um vir a ser. O logos é uma matéria sutil que adentra em todos os corpos ligados a experiência. É o cálculo perfeito de forma que, dos menores aos maiores fenômenos; as suas interações em decorrência de fatos são regidas por esta razão. Há um nível colossal destes fenômenos se comparado ao indivíduo; tendem a incompreensão dos limites de uma mente humana, tal como a φαντασία (phantasia) que gera a impressão ilusória da realidade. Já a impressão da mente é denominada φάντασμα, phantasma (fantasma), significa “aparição de coisas extraordinárias, fontes de ilusão e imagens sem consistência. Ilusão de ótica".

É natural do ser humano julgar o certo e o errado, e muitas vezes a impressão errônea curiosamente corrige-se em um jargão popular: “o mundo não gira em torno de você”... mas você gira em torno do mundo, maior que você e maior que a sua mente. Diante da imensidão do universo, seria presunçoso julgar o acontecimento dos fatos como justos ou injustos. A injustiça é injusta para os olhos humanos, mas para o logos, o todo tem um papel no universo. Observar os fatos com amplitude, entender o sentido dos acontecimentos diante do devir, tal compreensão sobre as interações da vida, para os estoicos é chamado φαντασία καταληπτική (Phantasia Kataléptica). Significa a procura de uma representação fidedigna, com que grau conhecemos, e se estamos conhecendo realmente. É a percepção da realidade como tal, de  modo que, ainda, sim, percebe-se em uma pequena fração, uma amostra por uma da cópia da verdade.  Para isso existe o termo  "anima mundi" do latim (Alma do mundo) em grego ψυχή τοῦ παντός (psychḗ tou pantós) é um conceito cosmológico geral, mas contém diversas conotações por linhas filosóficas e até mesmo escritores literários. Para os estoicos é o lugar do próprio cosmos, arché (essência) ou princípio fundamental da vida e força vital que insere os papeis, ações e interações para criar o equilíbrio e harmonia. A alma é integrada a esta força e inseparável dela,  no qual o universo e o divino se manifesta.  

Há uma figura um tanto peculiar neste meio filosófico, Marco Aurélio da dinastia nerva antonina (Os cinco bons imperadores, segundo Maquiavél) foi estoico e escreveu em seu diário experiências pessoais, carregadas de filosofia e auto-entendimento. Tais anotações resultaram um livro chamado “meditações”. O fato é que o estoicismo era um solo fértil para o império romano, mas seria legítimo um imperador responsável por um estado imenso, pela opinião pública e por interações coletivas praticar o estoicismo? Sim. Marco Aurélio elegido a imperador, tem este papel no universo, procurava agir de acordo com as leis do logos. Vale ressaltar que para ele o domínio e o controle sobre Roma não seria objetivo, mas de fazer o melhor,  o correto e agindo no que é possível.  Reconhecendo que a sua felicidade e o seu equilíbrio interno é o precedente que permite a execução de funções políticas de maneira virtuosa. O estoicismo é conveniente para Roma no sentido de justificar a existência de um império porque há uma razão para existir, e até mesmo justificar as injustiças de um império.

Em relação aos papéis, a vida é como se fosse um teatro, o diretor é o logos, o teatro é o cosmos e os atores, são os protagonistas da vida que se submetem ao diretor. A função do homem então é atuar o seu papel da melhor forma, há um certo naturalismo determinista na distribuição destes papéis. A ἀρετή (areté - virtude moral) estoica demanda uma compacticidade do ser com o logos. É a sintonia, que em sua etimologia, do  grego Syn-tonos que significa força-igual, força-junto. É seguir a lei natural no justo e injusto que se apresentam. Há uma obrigação moral para o cumprimento do cosmos, a reta razão (essência de virtude ou justo meio)  exprime a obrigação de não se corromper pelos vícios, assim como a Ἀταραξία (ataraxia) traduzida como ausência de inquietude ou preocupação. Ceder aos vícios e desejos é fugir, negligenciar e negar as adversidades da vida.  A não aceitação e o não comprometimento além de corromper a saúde e moral do indivíduo  se opõe ao logos que apresenta os desafios, adversidades, perdas e sofrimentos por uma razão maior. Há um comprometimento com o chamado do logos para sua função que deve submeter-se ao dever. A palavra εὐδαιμονία (eudaimonia) felicidade e bem-estar cunhou ao estoicismo um significado com a máxima “viver de acordo com a natureza” o estoicismo. Sabedoria prática da vida, a φρόνησις (phronesis) significa prudencia ou sabedoria mencionada em Aristóteles.

terça-feira, 12 de julho de 2022

Tempo e maturidade na visão da fenomenologia

TEMPO E MATURIDADE 








As crianças enxergam coisas que às vezes nem os adultos veem, quem é o mais maduro? Para Focault temos uma impressão que a maturidade carrega uma linha temporal reta, a infância é visto de um aspecto não evolutivo. Tenho a impressão  que a totalidade do ser na sua maturidade expressa um caráter circular, onde há a interação do eu pequeno, com o eu atual.

Ignorar o passado ou superar uma vergonha que incomoda é o oposto de investigar e aceitar a imprudência, que de algum modo foi necessário para haver prudência. Aquele passado fez parte do ser, julgar bom ou ruim diante das causas e condições  para as quais aquilo existiu enquanto fenômeno; seria atrevimento do homem diante da compreensão colossal do cosmos, das coisas e da sua própria formação. Não é necessário "superar" um amor ou uma infância, mais aceitar aquilo que foi, sentir e procurar formas criativas e únicas do indivíduo para aceitar o que é, o que foi, e o que quer ser. Aceitar é um trabalho de honestidade consigo, e admitir mas não se render. O passado é uma constante comunicação com ser presente, e o vir-a-ser futuro. 


O que é lúdico e abstrato tem aspectos das características infantis, que podem brilhar quando aplicadas pela experiência do tempo. Não é superado e sim recolocado, ressignificado pelo desenvolver do "eu", com as coisas, causas e sentidos. 


Para ser comediante, poeta, músico, romântico, criativo é preciso ser um pouco infantil, ou até patético (no bom sentido). Para ser idealista de um mundo melhor, com ações sejam políticas ou individuais, é preciso ter um pouco ingenuidade de criança. 


Lecionar, trabalhar ou educar crianças seria um trabalho de renovação aceitação  da criança interna. Requisita ao educado algo de infantil, o suficiente para sustentar o caráter de amor e admiração a quem é educado. Parecendo infantil positivamente, remove obstruções e cria significados na existência do educador seja ele pai, professor, etc... 


Traz o que lhe é o humano, forma o humano, dá leveza à vida. O recalque do paciente com raiva e sem paciência com crianças revela um ego afetado e não trabalho. Às vezes corresponde a mesma idade da criança que o incomodado perpassou.


" A criança pode manifestar compreensão profunda da realidade. Talvez as restrições que percebemos na criança não sejam apenas limitações próprias do período de infância, mas também  correspondência à expectativa que temos das crianças. Delas não esperamos nada sério [...]. Outra mãe extremamente organizada, tem uma filhinha que não é nada ordeira. Um dia ela pediu para a filha pegar uma lancheira, mas a menina não encontrava. A mãe começou a dar bronca. 'Não é possível, você vive perdendo as coisas [...] o que é que vai ser amanhã?' . Quando ela parou para tomar o fôlego, a filha disse : " Você também perde!. Essa afirmação da menina era um terror para ela, tão organizada [...]. A mãe retrucou  ' eu perco?'. E a menina : 'É você perde' (...) você perde a paciência'. Esse tipo de apreensão instantânea e imediata corresponde a um momento de maturidade, independente das características peculiares."

Na presença do sentido, tempo e maturidade. pp 123 - 124)



sábado, 2 de julho de 2022

Αμβροσιος (Ambrosios) - Doença do luxo










Αμβροσιος (Ambrosios) 

Acumule bens, gaste tempo com coisas banais. 

Acha que vivem bem, mais não consegue viver jamais. Se preocupe com os desejos que não o satisfaz.

Futuro cadaver em decomposição, as moiras ja sabem dessa sua ação. Elas tecem o que eles pedem. 

Pedaço de verme em reação, criando ilusão , mantendo a vida invão.

Aquele que só quer o bem, não quer o seu bem, porque é o que convém a causa final do bem estar material.

Veja bem, bem material é bem vindo, o escravo do bem material que é o fodido, quando acumulado, não bem aplicado... se acha feliz, o espírito moribundo.

Com glória que esquece do seu futuro defunto.

Esquece com quem esteve bem, só esta bem consigo mesmo, bem estar estar vindo do desprezo. Cairá no esquecimento quando morrer naquele momento.

Na grécia antiga, esse daemon é a presença inimiga, inima da pólis, criadores de dores. 

Sólon sem dúvida ia chutar sua bunda, de alma moribunda.

 στάση (stásis) corrupta, morte bruta.