Ong back 2 e 3 aplica muitos conceitos do budismo e da Psicanálise Junguiana.
Relata a história de um dos guerreiros mais habilidosos de sua época, chamado Tien, ele é movido por vingança. A morte de sua família cria uma única razão para sua existência.
Seu modo de luta é agressivo, impaciente e impulsivo. As coreografias do filme são muito bem trabalhadas neste aspecto.
É interessante ver o ciclo de samsara do protagonista se repetindo, quanto mais ele luta por essa motivação de vingança, mais lutas, e mais lutas sem um fim. Ele está sempre cercado por raiva e violência. Um dos infernos do ciclo do samsara, são os guerreiros que estão condenados a lutar eternamente, morrendo e voltando.
Representação da sombra
Em um certo momento Tien acaba perdendo a batalha pelo "Crow Ghost" (Corvo fanstasma) o seu maior adversário que também representa a sua sombra. Crow Ghost tem o mesmo estilo de luta de forma ainda mais selvagem e maligna, com poderes sobre humanos e magias negras.
A questão aqui retrata como lidamos com nossas sombras, sendo um grande enigma para estrutura psíquica de cada um. Tien no caso usa o lado sombrio, mais a sombra sempre foi mais forte que ele que o "self"(ele mesmo). A sombra é um elemento que esta ligado com os impulsos inconscientes do ID.
Yin Yang e sombra
Não podemos negar a sombra porque ela vive dentro de nós, a forma mais saudável é conviver saber lidar, aceitar mas não ser dominado. Converter essa energia em uma força que trabalhe conosco, não contra. A sabotagem é muito visível nos ciclos repetitivos que produzimos na vida de forma inconsciente, seria este o ciclo de sofrimento da roda do samsara. Por isso temos o símbolo do Yin Yang sendo sombra e luz o equílibrio ideal para ter uma vida esclarecida e controlável. Não podemos negar nossos impulsos mas podemos convertê-los em força de forma que esta, não prejudique nosso ser.
Derrota e união
Tien perde a luta, acaba sendo pego pelos guardas. Neste momento tem uma perspectiva budista o pagamento do karma de toda violência produzida pelo protagonista. Ele acaba sendo espancado quase até a morte. Mas morrer seria um caminho muito fácil. Eles quebram todos os membros de Tien impossibilitando-o de lutar.
Ainda sobrevivendo, aos cuidados de sua irmã e do mestre Bua (monge budista) , Tien fica por um bom período em estado de frustração pela incapacidade de cuidar de si e de se defender. Aqui observamos uma fase presente no monômito ( a jornada do herói). Toda jornada tem um mestre como figura de mentor e também temos uma fase do heroi de fragilidade, fraqueza e incapacitação. As fases mais difíceis presentes na vida de qualquer um. Admissão da perda, seja ela em relação a sombra ou em relação a vida. Tien dava "murros em ponta de faca", estes murros o impossibilitaram ele de usar as mãos.
A prepotência e o egocentrismo é algo muito forte que a sombra traz consigo. A ideia de não precisar se ninguém é um recurso de sofrimento que a vida ensina dando os famosos "tapas na cara". No caminho do aprendizado, quando estamos na perda trabalhamos a humildade e aprendemos que vivemos em sociedade. Muitas vezes iremos precisar de um amigo ou mentor, abrindo mão do ego para aprender e depois sozinho mas em parcerceria,com respeito, compaixão e humildade. O herói jamais conseguiria terminar a jornada sozinho.
Estado de loucura e desistência
Dominado pelos venenos mentais da sua incapacidade ao propósito do guerreiro, Tien resolve se suicidar em um precipício. Neste momento vemos um outro arquétipo presente na jornada do herói, a figura do louco. Este louco pode ser tanto uma pessoa externa quanto uma representação interna da nossa estrutura psíquica. A insanidade também é um lado da sombra.
Quando Tien pensa em se jogar, o louco aparece representando um símbolo do estado mental do personagem. O louco pensa em se jogar junto e depois da um passo pra trás, dizendo a Tien "Melhor não aqui não é legal, vamos embora". "Você quer se jogar de joga vai, eu não vou não" O louco nas cartas do tarô por exemplo, é a primeira carta e geralmente aparece como um louco à beira de cair em um abismo. O abismo significa o desconhecido, a escuridão do inconsciente.
É preciso ser louco sim, no sentido de ter ousadia, perder o medo e usar essa insanidade como uma construção arquetípica de renovação e embarque na aventura. A aventura de um heroi seria uma loucura. Ou seja para estar vivendo e se aventurando sem saber o resultado tem que ser meio maluco. Grandes cientistas descobriram coisas que na época era considerado maluquice, loucura e insanidade. Mas o louco carece de uma atenção e de um trabalhado cauteloso. Ponderamento da insanidade não é muito diferente na condução pela sombra. Não podemos ser dominados pela loucura, mas temos que ter um pouco dela. Para quem tem interesse nesse assunto indico o livro do filósofo Erasmo de Roterdã, "O elogio a loucura".
Neste momento o Monge Bua aparece com palavras sábias, diretas e precisas:
O louco, o mentor e o Herói"Até um louco como ele não se jogaria deste lugar"
"O seu nome Tien significa luz de vela, é a luz da razão que dissolve as trevas. Agora olhe para baixo, você ja pode enchergar sua própria sombra. Se você tem medo das sombras que o perseguem, precisa ter na sua mente que se há sombra ela só existe porque existe a luz. Busque a solidão no templo para meditar. Os espíritos do yang lhe trarão em segredo a iluminação"
O isolamento e autoconhecimento
Aqui encontramos a fase do Herói em isolamento. É uma parte da jornada de autoconhecimento meditativo. O caminho é revelado e direcionado pelo mentor, mas ele só se completa se há uma determinação do herói. Tien procura uma caverna para meditar de forma que aprenda a lidar consigo mesmo, com sua sombra e sua dor. Nesta caverna ele descobre um método para poder curar suas torções e sua incapacidade. Lembrando que a incapacidade não é só física ela representa algo muito mais simbólico e metafórico ligado a incapacidade da vida.
Entrando na Luz - Ânimus e Ânima
Em sua última fase, já com esclarecimento melhor de si, ele precisa aprimorar suas técnicas e entra em fase de treinamento. Esta parte é muito interessante porque a única forma dele enfrentar a violência é entrando em contato com o seu lado feminino.
Tien quando era criança foi forçado pelo rei (seu pai) a treinar a arte da dança e nesta idade já era um garoto que queria estudar artes marciais com "sangue nos olhos" dizendo ao seu pai que isso não ajudaria ele a se tornar um grande guerreiro. Então ele compreende depois a importância da dança feminina na aplicação da luta. Os movimentos são mais sutis, leves, calmos e precisos. Isso tira a necessidade do lutador de se movimentar em grande escala, com menos movimentos, mais flexibilização e precisão. A irmã então ensina a dança e o personagem trabalha sua anima (1- singificado no final do texto)
Elemento água - purificação
Tien diz "As artes da dança me ajudaram a controlar o corpo e a meditação minha mente" agradencendo eternamente ao seu mestre.
O mestre aplica fala sobre o trabalho do elemento água, que tem uma relação simbólica de purificação e fluidez:
"Permita que seu espírito corra livre como um rio, o espírito é o lider e o corpo é o soldado"
Término da jornada
O estilo de luta de Tien muda completamente, sua sabedoria e luz ânima agora estão unidos em um único ser. Agora o Tien tem capacidade para lutar contra seu adversário e o herói já esta pronto para luta final.
Animus e Anima
"A anima compõe a totalidade das qualidades psicológicas femininas inconscientes que um homem possui e o animus as masculinas possuídas por uma mulher"
"Para que a personalidade fique bem ajustada é necessário um equilíbrio entre anima e animus, ou seja: o lado feminino da personalidade do homem e o lado masculino da personalidade da mulher devem ser integrados ser expressos na consciência e nas atitudes."
Muito boa a percepção da jornada do herói, rumo a "individuação", ou quase, buscando a totalidade no elemento "Taoísta" ying e yang, o estar pleno, a unicidade! A força dos "Arquétipos" com o protagonista integrando sua sombra a luz de seu ser... É divino! É F*d@!
ResponderExcluirTexto bem concatenado! Parabéns,amigo Nagy! Aguardo os próximos!��