domingo, 8 de agosto de 2021

Mídia - Azul para meninos, Rosa para as meninas? Tem certeza?!

Quem sou eu?

Gosto de notificar, faço homem enxergar, crio ilusões para ele acreditar, faço de tudo para me atualizar, sou a moda a venerar. O que sou?

(Barão d'Holbach no século 18 ultilizando Rosa, sendo na época uma cor associada aos homens)

Criticar a mídia é clichê e estamos cansados de ouvir estes discursos batidos né? Lá vem o jovem rebelde, o artista contra-cultural. Perdeu um pouco de força talvez por conta da falta de "escavação" do fenômeno que incomoda. Por ser muito óbvio a intenção "influencer" mercadológica-cultural da mídia de alienação, estes assuntos na roda de amigos fica batido, com bordão. 

Enfim, sobre a mídia alienadora - muitos sabem, mas poucos procuram saber do que sabem."Ir a fundo" nestes assuntos são para poucos e esperamos que cheguem a muitos!

OBS : (Palavras com numeração tem o significado no final do texto )

Sobre a mídia segundo a escola de Frankfurt.

Thodor Adorno foi um filósofo alemão que desenvolveu uma reflexão minuciosa sobre a mídia televisa por volta de 1962, junto ao seu amigo Horkheimer. Para eles a indústria de massa não é considerado uma indústria cultural, porque a ideia de cultura tem como primordial a autenticidade. A cultura é um berço de conteúdos filosóficos (visão de mundo),estéticos(arte), históricos (reação de um grupo cultural). No conteúdo histórico podemos observar claramente o discurso do materialismo histórico Marxista. 

Neste aspecto muita coisa me parece plausível, contudo não concordo com o coitadíssimo presente em Marx, mas devo reconhecer que houve uma deturpação e desfiguração de grupos culturais. Estes ficariam refém de um sistema cultural predominante, seja pelo canal midiático ou não. O sistema define os valores éticos e morais criando uma separação daqueles grupos culturais que não compactuam com ele. Existe uma certa "coerção social" [Durkheim¹] . A coerção tem um histórico de ocorrências no flagelo das camadas ambientais, sociais, psicológicas e econômicas destes grupos culturais.

Logo deduzimos que a idéia de indústria de massa é criada com proposito de fins lucrativos, muitas vezes mascarado por um conteúdo que parece ser educacional. São conteúdos educacionais em um sentido unilateral, educam através de um sistema de regras e limitação de valores, gerando aversão a [alteridade²]. 

Autenticidade, roubo cultural e deturpação.

Não pode ser definido como cultura aquilo que não é originário. A mídia sempre vem em segundo plano, porque ela é uma reprodução de uma produção, uma ação cultural que produz. É necessário um primeiro elemento( cultura) para que venha o segundo elemento midiático. A divulgação midiática precisa de um material, este material é emprestado da cultura que através dela, acaba sendo modelado e divulgado pela mídia. Muitas vezes a reprodução(mídia) do original (cultura) acaba sendo deturpado de forma proposital ou não. Podemos afirmar que esta reação em cadeia carrega um "roubo cultural", seja ele com a finalidade de lucrar e entreter, ou para criar opiniões hostis sobre determinado grupo. E o mais interessante que esta hostilidade não é produzida de de forma direta, ao contrário, é sutil... como? usando estereótipos, alterando arquétipos e atingindo o espectador em níveis subconscientes.

Exemplo 1 - Latinos


Por eu gostar muito de filmes latinos (diretores como Buñuel e Almodóvar) vejo que existe uma abundância cultural na forma como eles encaram o mundo. Filmes de arte latinos encanta qualquer alma dotada de visceralidade e mostra um pouco o comportamento e o estilo de vida intenso deles. Existe um graaande estereótipo produzido por hollywood que impede muitas vezes que as pessoas  conheçam outras culturas. É nitidamente claro que este estereótipo tem uma finalidade política sugestiva por trás, porque americanos são nacionalistas por natureza, seletivos e tem complexo de superioridade. Eles tem um histórico de aversão a imigrantes latinos : bolivianos, peruanos, brasileiros, mexicanos, chilenos e colombianos. Nem todo latino é pobre e imigrante ilegal que aparece para trabalhar em serviços secundários. O que mais vejo são as latinas nos filmes trabalhando como faxineiras/empregadas e amantes. (Não cabe a mim entrar em papo de sexulização, seria hipócrita neste aspecto)

O que me entristece é ver o discurso americano afetando com suas opiniões escrotas pessoas e culturas da nossa própria região America-Latina. Vejo muitos brasileiros praticando preconceito contra bolivianos e peruanos.

Exemplo2 : Índios

Particularmente sou um admirador da cultura e religião indígena, o xamanismo é pouco conhecido entre a massa, então pode ser facilmente deturpado. Eu não me recordo o nome do filme mas é um filme americano de comédia romântica (com uma atriz famosa-inexpressiva-que-não-fede-nem-cheira-e-faz filmes-fúteis-de-massa). No filme ela esta observando uma senhora fazendo um ritual xamânico na floresta. Eles ridicularizam a senhora que supostamente estaria associada como a pajé/curandeira/xamã. A dança no filme ressoa como algo tosco,primitivo e esquizofrênico. Usando um discurso no filme que no Brasil também escuto muito entre pessoas alienadas "Você faz a dança da chuva? , coloca a mão na boca fica batendo nela e gritando ololololo". O xamanismo tem muito mais profundidade do que isso.


Exemplo 3: Vikings - ok eu gosto da série Vikings e assisto, mas os nórdicos são vistos apenas como sanguinários e gostam de sexo e de beber. O conhecimento sacerdotal e religioso do paganismo nórdico carrega muito mais profundidade do que isso. Eles também eram excelentes agricultores, escultores, artistas entre outras características.



Exemplo 4 : Deus Pan - Pan é um arquétipo utilizado em muitas religiões pagãs. Podemos ver deuses semelhantes nas religiões. Para quem tem interesse em se aprofundar no assunto eu recomendo o livro "O Heroi de mil faces" e "O poder do mito" de Joseph Campbell (mitologista e estudo de religião comparada). Este Deus foi injustamente satanizado pela igreja católica na idade média, satanização que até hoje reverbera na mídia em desenhos animados, filmes e mídias de massa. Eles associam qualquer figura com chifres e transmórfica de bode ao elemento do mal, do medo, desejo e proibição. A mídia então cria uma preferência religiosa doutrinando pessoas e satanizando figuras sagradas de outras religiões.

Sendo assim a mídia não cria, ela recria se embasado em matérias e elementos já existentes na cultura e em grupos culturais. A mídia num geral é uma repetição de discursos, valores e sonhos e ideais de viver. Para Adhorno e Horkheimer a indústria da cultura chamada de arte cria um sistema coerente entre sí, para mercantilizar que [Reifica³] a cultura  deixando de ser um espaço de emancipação do homem. Sendo a arte e a cultura tendo como alicerce a diferença, originalidade e emancipação, algo que tira a alienação.


Azul para meninos, Rosa para as meninas 




Este é um exemplo do quanto somos manipulados e enganados pela mídia. Por mais que você queira desassociar esta ligação de azul masculino rosa feminino, ainda vai reverberar no seu subconsciente a maldita associação. 
Vamos falar de história, em 1918 uma revista de moda infantil americana, Earnshaw disse "A regra geralmente aceita é que rosa é para os meninos, e azul para as meninas. O motivo é que o rosa, sendo uma cor mais decidida e forte, é mais apropriado para meninos. Enquanto o azul, que é mais delicado e gracioso, é mais bonito para a menina." 

Gavin Evans, especialista em cores o azul sempre foi associado à Virgem Maria por constituir elementos de delicadeza,suavidade e fluidez. O rosa por ser uma cor mais quente, ligado também ao vermelho é assciado a algo mais energético, representando força, intensidade e peso. A segunda guerra mundial fez o cenário mudar de contexto. Em 1920 e 1950 os Estados Unidos deram um salto em termos de industrialização, isso mudou o cenário de produção. Por motivos mercadológicos o azul começou a ser comercializado pelo varejo como a cor ideal para homens e as marcas de moda ajudaram convencendo a idéia do rosa ser uma cor mais delicada. Isso ecoou os desenhos animados, meios midiáticos impressos e televisivos.

Conclusões finais e posicionamento

No cenário cultural, artístico e expressivo sou obrigado a concordar com a corrente marxista. Já no cenário econômico não. Mas todas estas observações devem ser absorvidas com moderação, pois ao mesmo tempo entra em um discurso politicamente correto de respeito cultural que no extremo ficaria intragável. Estas nuances são complexas. Deixa uma linha muito tênue entre verdade e militância fanática. Não acredito que há um sistema politicamente correto para retratar e respeitar os grupos chamados de "oprimidos". Muito menos que grupos culturais são oprimidos da forma como defendem. Há uma coerção, mas não há coitadismo comigo não...

 1 - Coerção : Conceito criado pelo Sociólogo Émilie Durkheim. "Forma de pensar e agir moldada conforme o que a coletividade" Fonte : https://www.significados.com.br/coercao/.

 2 - Alteridade :"Alteridade é um substantivo feminino que expressa a qualidade ou estado do que é outro ou do que é diferente. É um termo abordado pela filosofia e pela antropologia" Fonte :https://www.significados.com.br/alteridade/"

 3- Reificar : Encarar (algo abstrato) como uma coisa material ou concreta; coisificar. Transformar em coisa; dar o caráter de coisa. Do latim res: "coisa"; em alemão: Verdinglichung, literalmente: "transformar algo em coisa" ou Versachlichung, literalmente: "objetificação") ou coisificação é uma operação mental que consiste em transformar conceitos abstratos em objetos ou mesmo tratar seres humanos como objetos.






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