segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Maquiavel - Os Fins Justificam os meios? (Revisado!)













[Este texto para permite que você pule até o final na conclusão se quiser]

Nicolau Maquiavel é um dos primeiros que contribuiu no fundamento para o conceito de estado. Sendo primordial na ciência política, estratégias de guerra e gerenciamento de pessoas. Sua repercussão foi a síntese do pensamento político de Thomas Hobbes, que teria um estado como definição, dando segmento depois à John Locke e Rosseau.

Seus princípios se baseiam na práxis politica como justificável (uma forma pragmática), buscando atos necessários, independente do que for preciso para controle de um estado.


Considerado um dos primeiros a quebrar paradigmas antigos dos gregos e romanos, no que lhe concerne o governante não seria mais uma pessoa de virtude (Virtude de Sócrates, Platão e Aristóteles). A virtude como lei universal se sustentou até a idade média pelo cristianismo através de Santo Agostinho, Thomás de Aquino e etc.. 

Renunciando a todas as utopias da filantropia, nosso autor analisa o que são os sistemas políticos de forma sólida e realista, defende que um bom gestor uma hora ou outro ficaria refém de ações moralmente questionáveis, mesmo que não queira. 

Tais ações não implicam necessariamente um governante “malvado”, mas um governante que faz o necessário por um ''bem melhor''. Entendendo o poder político como o uso da força para manter a ordem. Existe uma influência imperialista com a idéia do controle de um soberano buscando um resultado de centralização governamental e para este processo de controle estatal, teria a necessidade de tropas nacionais bem consolidadas (influencia meio facista).

Na obra de Maquiavel O Príncipe é uma dedicatória ao Lorenzo Medici O maginífico, que tem como embasamento as dicas de  governança. O príncipe é uma simbologia que retrata não necessariamente o filho do rei, mas o nascimento  de um futuro governante.

A Nova Política

Nicolau Maquiavel desejava uma Itália unificada, sugerindo uma nova forma política que se divide da condução moral e religiosa. A ruptura de Maquiavel reverbera o pensamento político de Thomas Hobbes e os diversos campos do conhecimento. O governante deve executar ações necessárias para manter o poder e o controle do povo. A ordem é articulada por soberano que controla e centralizar o país.  O Príncipe é uma obra com dedicatória a Lorenzo Medici, o magnífico. 

Virtú e Fortuna

A virtú aqui é qualificada enquanto habilidade, aquela que age conforme a necessidade, buscando a solução pratica, não depende de caráter ou princípio. Fortuna entendida como a “sorte”, ou ocasião é um elemento inevitável que a vida pública de um governante perpassa, ele depende da opinião e a influência social. São as causas e condições simultâneas, as oportunidades e adversidades. Mas há outro exemplo de fortuna, a hereditariedade que entrega condições para que se possa governar. A virtude depende unicamente da boa prática e experiência, aquele que age enquanto estrategista. A fortuna por hereditariedade não dá espaço para que o predecessor desenvolva a habilidade e experiência. O príncipe sempre deve aproveitar a fortuna, e desenvolver a virtú essa que se difere da ideia da virtude engessada em princípios, valores e ideologias tornando se vulnerável e previsível. 

Crueldade bem praticada e mal praticada

A crueldade bem praticada registra as medidas “inadmissíveis” para povo. A solução é o tempo para o esquecimento. Esta ação é avaliada, caso seja necessária é feita de uma única vez, ou em determinados intervalos de tempo, já a crueldade mal praticada remete a uma ação sem prudência, tem consequências consecutivas que se multiplicam sem cessar.

Reputação do Príncipe

O goverante deve ser amado ou em último caso, temido, porém nunca odiado. Se não for amado melhor que seja temido, ainda temido consegue conter e evitar rebeliões. O governante odiado consequentemente lida com revoltas e rebeliões. Transmitir a bondade, o altruísmo e a fé formam uma boa reputação, não precisa necessariamente ajustar-se com a imagem que transmite, mas deve mantê-la, poucos vêem o que somos, mas todos vêem o que aparentamos.

Agir como Homem e Animal

Agir como homem significa cumprir as suas palavras, mas os princípios tornam um soberano previsível e limitado. Entre os animais temos o leão, instintivo que usa da força física para botar ordem. A raposa que é audaciosa, no acordo de uma negociação, pode até não cumprir, mas ainda prevê a consequência.



Conclusão - Os fins Justificam os meios?




Todo esse repertório é amoral e desleal, principalmente no  - aparentar-ser. Devido ao interesse próprio.  Maquiavel não só retrata a realidade de um governante, solitária e muitas vezes de aparências.  A própria  realidade da vida na camada social de muitos e o funcionalismo racional do mercado (Weber). O problema não é o sistema econômico, mas os meios pelos quais se articulam ideias do homem que enumera pessoas e retira os seus valores e princípios.

Este filósofo é realista quando pauta a natureza humana sem utopias das virtudes platônicas e religiosas. É notavel que existam pessoas boas, contudo em suas individualidades e contextos (fora da camada social) podem ser más com as outras. Não existe bondade plena em um ser humano. Até mesmo a bondade plena é vista como anti-natural, visto que hoje na psicologia existe uma patologia chamada "Síndrome da Madre Teresa de Caucutá". Veja bem, se você pode ser bom seja o quanto puder, evite ser mau. Mas ser bondoso sempre pode acarretar a você serias consequência. Não seja trouxa. A maldade e a malícia muitas vezes nos defende contra outras maldades e malícias, é inevitável.

Os fins justificam os meios? Depende do caminho que for trilhar.
 Exemplo: Vamos supor que você tem um cargo alto em uma empresa e precisa escolher entre demitir um funcionário por questão financeira. Pela lógica você como deve escolher entre o funcionário que contribui menos para empresa, o menos produtivo. Mas este funcionário está com depressão com filhos para sustentar. Pela sua humanidade você deveria mantê-lo, ajudá-lo, mas não há tempo e nem dinheiro pra isso, então você teria que demitir ele e manter o funcionário que é (forçando a barra) solteiro, folgado, chega no trabalho atrasado cheirando álcool e mora com os pais, por quê? Por quê? Porque é um dos primeiros no Ranking de vendas. Vai deixar a sua empresa falir por coração?. Uma vez me disseram  algo que levo até hoje, foi em um momento difícil:" Empresa não vê coração!, vê resultado" e essa é a realidade, aprendi muito. Uma frase de sobrevivência.

Não é atoa que aqueles que ocupam os cargos mais altos das empresas tem um certo grau ou traço de psicopatia segundo os pesquisadores no campo da psicologia. Existem inúmeras pesquisas por ai que chegam nesse resultado. Para tais cargos é  necessário frieza e pragmatismo pela tomada de decisões estreitas.

Agora se você não lida com esse universo pragmático, não há motivo para se sujeitar a isso. Eu espero nunca ter que passar por este tipo de decisão. Maquiavél esta certo e errado eu diria. Não nos atos, mas sim na forma de ver o mundo pragmático, frio, sem coração. E muitas vezes teremos que enxergar desta forma por sobrevivência.

 Sobre o grau de psicopatia  é muito interessante, comece a observar isso no ambiente corporativo, as vezes não têm no seu trabalho, mas tem em muitos lugares. Já vi também bons líderes, admiráveis que tem empatia, mas em algum grau algumas decisões teriam que ser maquiavelianas. 

(Existe uma diferença do maquiaveliano e o maquiavélico). O maquiavélico é o manipulador negativo, o maquiaveliano é aquele que aplica a manipulação com ponderamento, visando também "o bem". Porque há escolhas que visam carecem desta frieza, e muito mais ligado ao conceito culto filosófico de maquiavel, do que puramente manipular.

O maquiavélico é aquele que só manipula sem o embasamento racional, apenas por manipular. O maquiaveliano faz isso por questão de funcionalidade sistêmica, dentro da "seleção natural da espécie" no mercado de trabalho, por exemplo, na política e em liderança em determinado grupo social.

Sobre o chefe dos líderes ( não os líderes, mas o chefe deles rs) , eu não julgo, cada um no seu lugar. Eu tenho dó na realidade, são pobres de espírito, de coração e não sabem o quanto é prazeroso ter empatia e humanidade. Venderam a humanidade pelo dinheiro e poder, onde há uma certa deturpação sobre o que é felicidade, o que é ser feliz e qual seu sentido no mundo. Não é muito diferente que vender a alma para o diabo. Bom, eles que se resolvam no inferno rs...

De certo modo aprendemos com maquiável para ver o mundo, mas não necessariamente praticar e sim entender o mecanismo social. 
Será que Maquiavel era um psicopata/sociopata? Comente :






Rudá Raoni - O homem dos Lobos (Esboço do conto)

 Apenas uma introdução de um conto inspirador! (Podendo até virar um livro)










Prólogo 

Um curandeiro que carrega o nome Rudá Raoni, um entre os pajés mais sábios de sua região local, teve uma previsão tão clara que viraria uma profecia. Apesar da profecia parecer não ter sentido, ou até mesmo correr por caminhos que poderiam subverter valores da tradição local. Entre as bocas da tribo, soava como uma profanação. Entre os mestres, uma dúvida. Entre os sábios, uma certeza. Entre mestres sábios, uma verdade. Quebra de valores consiste também em mudanças para iluminar o mundo. Nos feixes de luz emanados pelo espírito dos mestres e anciões das mais antigas religiões, carecem de forças mutáveis não tradicionais. A espiritualidade se renova assim como o mundo material. É bem provável que alguns feixes de luz já estão desgastos, manjados. São necessários novos métodos, novas emanações vibracionais, novas cores de luz, novos meios de se criar caminhos, novos caminhos para se criar meios.

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Por onde Rudá andava, os lobos o seguiam, dois. Baltor tinha pelos brancos como a neve, com olhos vampíricos. Podia ver os mortos e espíritos obsessores. O homem dos lobos possuía um olho deles, do qual havia trocado o seu com seu animal. Mas para poder ver através da visão dr Baltor, era necessário o mesmo estar ao seu lado. Atravéz dos olhos da morte, Rudá encaminhava os malfeitores com cantos e rezos realizados pelo sopro do tabaco. Com o sopro correto podia direcionar as almas que aceitariam o livramento das sombras que predominantes 


Ankor tinha pelos marrons terracota, lembravam as montanhas navajo. Os olhos as vezes ficavam tão escuros que em alguns momentos ocultava a sua pupila. Carregado de segredos, eram olhos  que despertava a curiosidade dos homens insensatos. Ankor também era outro que tinha um de seus olhos trocados com o Pajé. Os olhos de Ankor serviam para equilibrar os olhos de Baltor. Um olhar branco veria almas e espíritos. Um olhar marrom veria a terra e as ancoragens. Ancoragem a matéria para ver a realidade física, ver a essência e natureza por trás das matas ou por trás das coisas. Olhos da terra, olhos da morte, um branco, outro marrom. A combinação da dança vida.

A Profecia 

Enquanto Rudá colhia o pé de tabaco em uma tarde ensolarada, ao tocar na planta escuta sua voz. Grande voz do pai e avô tabaco.  A voz dizia: 

- Filho sabes que tem uma missão final por aqui. Aprendeu tudo que já precisava, mas há uma última lição. Saiba que vamos atender o seu pedido. Poderá partir após completar a tarefa final. Para haver um novo ciclo, dando início outras tarefas finais. Para o fim do ciclo dando início a outras tarefas iniciais. Sem resposta sem fim ou início, apenas sentido, um dia fará sentido. 

O pajé disse: 

- Meu pai, não desejo partir. Tenho amor a este mundo, tenho amor a ti, a mãe e aos seres. 

A planta responde 

- Seu desejo sem resposta sem fim ou início, apenas sentido, um dia fará sentido. Assim ja foi dito. 

- Tal desejo não veio ainda, entendo. Só não entendo por que desejar acabar com uma vida antes de seu tempo. 

- Seu desejo sem resposta sem fim ou início, apenas sentido, um dia fará sentido. Assim já foi dito. Não alimente pensamentos, apenas movimentos. Sexta-feira é lua cheia, seu movimento é preparar o chá da mãe e amassar as folhas do pai. Da chacrona, da Mariri e do tabaco, iremos lhe mostrar. 

- Assim foi dito. Apenas movimentos,  entendido. 

As barbas grisalhas de Ruda Raoni,  cobriam quase todo pescoço, representava um sinal de uma vida com muito aprendizado. Correspondiam a atitude, equilíbrio e consciência. Assim ele seguiu, sem alimentar pensamentos apenas atitudes. Começa procurando lenha para cortar e procede na criação de seu rapé, retirado do tabaco que o comunicou. Prepara seu tabaco com rezos específicos e prepara o chá da mãe, retirado da chacrona e do mariri. 

No dia seguinte, devido ao seu respeito na grande aldeia, ele reúne os curandeiros mais velhos e diz: 

- Meus irmãos anúncio a vocês um chamado. Minha missão agora é abrir uma cerimônia, aberta apenas entre os curandeiros mais antigos. Se sentirem no coração o meu chamado, se for do meu merecimento, aceito entre vocês... a cerimônia será daqui a 3 dias, em lua cheia. Já tenho todos os preparativos em minha casa, temos lenha para fogueira, rapé, sanânga, tabaco e coragem. 

Anori, o mais antigo e respeitado da tribo, (nome que se dava a tartaruga Tracajá ) disse: 

- Raoni, Rudá Raoni meu irmão, tem respeito aqui na tribo, tem bons feitos. Tem olhos da morte, olhos da vida e mais importante, tem disciplina. 

Com uma voz mais grossa, alta e forte ele prossegue: 

- Aquele que não vier em sua cerimônia, será punido através das leis do pai dos pais, do criador de todos. Seja morte ou não,  nós apenas lançamos a justiça divina. Sabe que não fazemos nada sem ela, nós os mais velhos só direcionamos as situações para que a justiça seja feita! 

- Eu Já sei Raoni que viria anunciado, e como disse nosso mestre... 

Os dois olharam entre si com foco e seriedade. Disseram em simultâneo. 

"Assim foi dito!" 

A cerimônia 

Algumas horas antes de dar meia-noite, o fogo já estava alto carregado de fenômenos incomuns. Um deles foi as chamas que tomavam formas quase cilíndricas com pontiagudas que se dispersavam ao bater do vento, criando faíscas barulhentas e nervosas. Trazendo algum tipo de aviso. Em volta da fogueira haviam 12 curandeiros, parecido como uma espécie de parlamento ou alto conselho. Entre eles, dois anciões chefes que tomavam as decisões e direcionamentos. Ficaram um em cada ponta do círculo. O primeiro é Anori e o segundo, seu irmão Iberê. Viviam entre os 70 a 80 anos ambos tinham uma saúde juvenil com cara de 60 anos.  

Aos arredores do centro da aldeia haviam matagais de grande largura e comprimento. O horário noturno era até propício para os nativos se perderem fora da aldeia, considerando os perigos, era proibido sair até determinada hora. O próprio Rudá poderia se perder, assim como muitos. Para dar acesso ao caminho da aldeia havia apenas uma trilha, criada em uma entradinha secreta sendo vigiada por dois arqueiros. 


Foi decidido que o ritual seria feito no ambiente externo, localizado no centro da aldeia. Era também um espaço mágico, cercado por pedras protetoras e símbolos de selamento, para que não entre nenhum mal. 


Os doze curandeiros estavam lá, Anori e Iberê ficaram na ponta da roda sentido norte enquanto Rudá se fixou a outra ponta, no sul. Iberê tinha um olhar fixo e quase desagradável frente ao xamã com olhos de lobos. Havia uma desconfiança, aquela do tipo onde "os santos não batem". 


Falando um pouco deste ancião chefe, Iberê é um dos decisores pela tribo, assim como seu irmão Anori. Diferente do irmão que admira a personalidade forte e um tanto subversiva de Rudá, Iberê carregava um ciumes do irmão pelo homem com olhos de lobos. Também não podemos esquecer que o irmão de Anori preservava muito o zelo pela cultura e tradição de seu povo, tudo que diferia tornava-se  ameaça para o futuro da tribo. Alteridade era natureza de Raoni, e o irmão de Iberê tinha uma intuição de que isso seria necessário para o futuro da tribo. Gostava da ideia de mudanças, andava maior parte com Raoni ao invés de Iberê. 

Na cerimônia Raoni disse 

- Todos vocês podem desconfiar, discordar ou não gostar de mim irmãos. Contudo, por respeito a cerimônia, aqueles que levantam olhares hostis e alimentarem pesamentos hostis do que diz respeito a minha pessoa; em nome da medicina e de todo espaço sagrado aqui dirigido, é necessário pedir perdão e correção de imediato.  

Todos olharam para o norte em busca de orientação dos chefes. Iberê ficou desconcertado, olhou para baixo e depois olhou para o fogo. Anori sentiu que a mensagem foi para Iberê devido aos impasses de ambos, que eram muito rotineiros em cerimônias. Em seguida disse: 

- Escutaram o homem! Quem tiver algum problema com Raoni que tomem atitude e se resolvam com ele, mas não neste espaço sagrado, muito menos em cerimônia. Aquele também que é mal visto diante do outro, deve se analisar. Deve ter compreensão por aquele que o rejeita, porque aqui ninguém é santo. 

A cerimônia começou, depois de algumas horas as visões vieram no sopro de tabaco de Raoni. Anori estava muito conectado com o propósito e também sentiu que a mensagem sairia após o sopro. O homem com olhos de lobos pronunciou suas palavras com uma voz bem grossa, séria e forte, tom quase gutural, o som que saía ecoava o círculo, seus olhos começaram a criar luminosidade e os lobos uivavam carinhosamente, fazendo um som de fundo: 

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sábado, 30 de outubro de 2021

Immanuel Kant - Ouse saber (sapere aude)



Texto de estudo - A Dialética do Esclarecimento | O que é o iluminismo?



O QUE É DIALÉTICA ?

Do ponto de vista racionalista pela linha de Platão ( explicarei racionalismo adiante) no livro a república o autor afirma que  a dialética é o último estágio da sabedoria (ainda que muito distante da sabedoria perfeita do mundo das idéias). A dialética é a discussão (um debate meditativo) em algum ponto dessa discussão (tese-antítese = síntese) haverá alguma convergência. Descartamos todas as divergências e em o tema do debate chegaria a alguma convergência. Sendo a própria uma arte da discussão que faz emergir a verdade que estava até então oculta. "Como se houvesse um encadeamento de todas as ideias perfeitas e a partir de uma você vai descobrindo as outras como uma teia de aranha" [fonte : Escola de filosofia - Platão a República - Teoria do conhecimento)

O QUE É O ESCLARECIMENTO?

Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade. Sendo menoridade uma incapacidade de se servir do seu próprio entendimento, impedindo o crescimento racional.


A partir do momento que criamos consciência de nós e do mundo automaticamente passamos uma emancipação do comodismo e medo. 


O covarde é aquele que não tem coragem de assumir a carga de decisões e conflitos por se aceitar ignorante. Muitos ainda por preferem a ignorância, mesmo que haja em algum momento... uma faisca, uma pequena semente de dúvida sobre a sua realidade, sobre a matrix em que vive. E minha convicção insiste em dizer, todos em algum momento já pensaram" quem sou eu, aonde estou pra onde vou?, o que é Deus? Quem é Deus? Quem é o outro? O que é o amor?. Pessoas que se apegam a futilidades e trivialidades não tenham se aprofundam nessas questões porque talvez  não queiram simplesmente olhar. Mas não seremos intolerantes muito menos arrogantes. Por outro lado acredito que cada um tem algo especial para nos ensinar ou contribuir. As vezes esta contribuição anda adormecida, as vezes surge em que você menos espera, as vezes a própria simplicidade e humildade de seu pensamento (claro, fora do universo trivial)  pode causar impacto no "cérebro de titã" de um arrogantelectual, então tomaremos cuidado no julgamento. Mas são pautas importantes para trazer a luz, como o iluminismo de Kant.

CONCEITO DE MENORIDADE

O que é menoridade? menoridade é a inabilidade de usar seu próprio entendimento sem uma guia, ou referência. Seria uma mente vazia que não possui nenhum tipo de ancoragem mais aprofundada sobre a sua existência. (Seja ela na psicologia, matemática , espiritualidade, artes e etc..) e não só basta ter referências (que já seria um bom começo, porque muitos não as possui) mas questionar as referências, quem nos da as referências, e acima de tudo criar as suas próprias referências e não endeusar ídolos, profetas, artistas,escritores ou outras inspirações.
(Indicação de livro - Crepúsculo dos ídolos - Freindich Nietzsche) 


OBSERVAÇÃO

Nesse livro Nietzsche tem um quebra pau feio com Kant durante muitos percursos. Na filosofia os pensadores tem muitos inimigos públicos das correntes de pensamento que divergem. Eu me divirto e chamo de "casos de família do ágora" . Briga de intelectual é cômico por ter toda aquela coisa pomposa e extravagante nas palavras e chingamentos, se fosse eu ia logo mandar tomar no @#$%&*! Rs.

Mas alguns estudantes e até professores (isso é muito perigoso) tomam essas dores, tomam lados e até partidos (literalmente partidos políticos) . A questão não só pregar Ideologia, deve haver liberdade. Mas o problema é enfiar ideologia "guela a baixo" coagir aqueles alunos que discordam em sala de aula ( prova viva disso ). Vivi isso com Marxistas, mas também já vi isso em conservadores e liberais. Fato é que em algum ponto mesmo que sejam ideias opostas elas podem se encontrar. Marx contribuiu para o entendimento do capitalismo, assim como o capitalismo contribui para o marxismo, se ele não existisse não existiria socialismo. O professor deve expressar sua ideia deve ter liberdade, mas sem que atrapalhe a liberdade do outro. Como dizia Hebert Spencer, filosofo inglês "A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro". Aos professores desta conduta eu acho desleal, anti-ético e um crime contra o conhecimento humano ter essa atitude, para uma profissão que procura expandir a consciência e iluminar. E uma desonestidade do caralho né? O professor tem muito mais ferramentas pra poder argumentar, debater, dissuadir e reduzir um  aluno que ainda esta em formação.

O QUE É O VERDADEIRO PENSADOR?


O verdadeiro pensador, o verdadeiro filósofo, educador e pesquisador, pondera, analisa e procura estudar os outros lados. Isso é ter maturidade intelectual, tem um certo molejo, uma equilíbrio e fluidez perante as divergências. Não se abitola e não compra um pacote de bolacha só da mesma marca, mesmo que dê preferência a ela. Marx e Proudhon (socialista e anarquista) assim como Adam Smith e Ludwin Von Mises( conservador e Neoliberal) possuem muitas coisas enriwuecedoras. E porque to falando tudo isso? por conta que o que a menoridade, apesar de der de um pensador oposto carrega algumas semelhanças com aspecto da liberdade e questionamento em Nietzsche nesse livro que citei.

Veja na frase de Kant

“O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem”

Para explicar a frase terei que explicar o racionalismo

RACIONALISMO


Kant era racionalista, então ele acreditava que temos o conhecimento inato dentro de nós, que pode ser despertado. Porque é um conhecimento divino que todo homem por fazer parte da obra divina pode alcançar em sua essência. Diferente do empirismo que acredita no conhecimento adquirido, como Aristóteles.



EXPLICANDO A FRASE

Como mencionei anteriormente, a menoridade considerada a mais covarde é aquela em que já teve uma faisca de questionamento e incômodo, mas não quis olhar. 
"Se a causa dela não se encontra na falta de entendimento" - Vamos supor que já existe conhecimento e houve um pequeno impulso dele, a faísca. Logo pressupõe que não há a falta de entendimento, porque esta faísca durante o momento de transição ao entender estava presente.  Pronto para ser digerida como um prato de brócolis com espinafre indigestivo, não muito atraente e saboroso, mas que faz bem. É verdadeiro. "mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem” - a falta de coragem de comer o prato, de usar a faísca para acender a mente é medonha, logo o indivíduo ficaria escravo do outro, das outras referências, do mundo externo e não interno. 

O que casa equacionalmente casa com a ideia de Nietzsche. Lembra que eu falei em questionar as referências e os ídolos e falsos profetas?  "servir-se de si mesmo sem a direção de outrem" Nesse ponto os dois tem a mesma conclusão!. (Apesar do Kant estar no céu e o Nietzsche no inferno kkkk)

Por este motivo expliquei que o sábio conhece divergências e não compra pacotes.

COMODISMO E ALIENAÇÃO


Para sair do ciclo do comodismo, da preguiça e covardia devemos ler questionar, investigar, procurar saber. A frase clássica “Sapere aude” significa ‘‘ouse saber ou conhecer”. “Tenha coragem de usar seu próprio entendimento”.

O homem de virtudes investiga um fato através da lógica e assume os riscos de suas próprias teorias. Todo o indivíduo vive uma situação de menoridade em alguma fase de sua vida, mas não poderia ficar neste ciclo a vida toda, pois a emancipação faria parte de um ciclo evolutivo. Para Kant uma sociedade sem esclarecimento, ou um povo que continua na sua menoridade é uma oportunidade fértil à  governos tirânicos.

Não é direito dos autoritários e do poder político definir o destino das gerações como pessoas sem autonomia para pensar, sendo o mais absurdo os chamados “tutores do povo”, são os da menoridade racional.



DESEJOS E VONTADES


Retirado do texto “o que é o iluminismo?” Kant retrata a questão da autonomia e esclarecimento em dois conceitos como desejos e vontades.

Desejos são impulsos do corpo, vontade é uma ação livre deliberada e racional, própria do ser humano.

Um animal por não ter racionalidade, é movido por seus desejos. Para o  ser humano, nós temos desejos, mas por outro lado temos a vontade, sendo que a vontade de Kant é a capacidade da racionalidade de escolher os seus desejos.

Os desejos acima de tudo podem ser vistos como sentimentos, por serem desejos que nunca irão parar de serem sentidos. A vontade é a decisão final dos desejos do ser humano, sendo através dela a capacidade que temos de sermos racionais com poder de escolher as decisões independentemente do que sentimos. 

É neste ponto em que a vontade seria o controle de nossos instintos, que logo, somos seres que podemos agir independente da nossa “natureza”, o que nos permite conviver em sociedade. Como dizia Paulo " Tudo me é licito, mas nem tudo me convém" (é a opinião do Kant não a minha ok?, tenho ressalvas)

O homem tem a capacidade racional para se guiar livremente pelo mundo, por outra vez a falta de esclarecimento da a fraqueza que abre mão desta capacidade. Considera-se que a autonomia e autenticidade andam juntas quando tomadas como objeto a liberdade das escolhas, valores, pensamentos e opiniões pela nossa racionalidade. 

Não gosto muito de Kant mas admiro sua sabedoria e aprendo com ele. Penero. Esse texto em específico abre muitas portas para pensamentos posteriores. Afinal é o principal filósofo da era moderna (apesar do machismo da época, que não é nada moderno). Meio decepcionante e levaremos em consideração a época

A dialética do esclarecimento também avança até mesmo na linha do existencialismo de Sartre. 

Vou mencionar o existencialismo um pouco mas oposto ao pensamento kantiano, e você encontrará semelhanças.


Será que eu existo se vivo em direção ao outro? Quem sou eu além do que dizem que sou ou devo ser?. Eu sou algo além das máscara que crio? das referências que me dizem serem as corretas? da televisão que me diz um estilo de vida, do ideal de beleza, de consumo de status?. Do mentor espiritual que me diz abrir mão dos meus caprichos? , deste mentor que me diz seja " bom dócil e adorável, perdoe seus inimigos" enquanto eu guardo pra mim aquele ódio, guardo o que quero falar,  quero me impor ! Deixe- me odiar!, deixe-me vivenciar e saberei se meu ataque e defesa faz bem ou não. Enquanto minha alma ferve por atirar se no mundo e tentar coisas novas,  perco a coragem porque muitas vezes sou podado? tenho medo? . O que mais as pessoas se arrependem em estados terminais da vida é não fazer o que a alma ansiou. É não existir em uma vida que existe. É seguir uma vida que disseram que deveria seguir, é viver a vida do outro. É viver com outro sendo eu  o outro em mim. Sendo meu minha profissão, eu sou o que trabalho?  TOMA ESSA BOMBA, Então Sapere Aude! Ouse saber.




Por outro lado a escolha de ser guiado pelo seu conhecimento inato não desperto e temoar a liberdade como escolha é um risco e tem que ter culhão.  Como dizia Sartre "Estamos condenados a sermos livres" quando a liberdade é percebida. Ignorância é uma bênção rs.

     O Cypher em Matrix não suportou a verdade

A vida livre pode não dar certo, não tem mecanismo nem fórmula pronta. Não tem autoajuda, nem rivotril ,nem pastor talvez nem o Deus que achava ser o Deus correto) E é uma escolha muito difícil, porque “o mundo mostrará o contrário”. Só um detalhe essa ultima parte é muiito oposta de Kant, é só uma provocação, mas ao mesmo tempo -divergente mas que tem congruência em pontos chaves. 

Nesse sentido a proposta destes filosofos citados é a mesma. Ouse saber!.
 Pode ser que apenas andei pensando demais... brisa? Masturbation Mentalis.
Ouse questionar 😉

OBS : Ouse saber mas cuidado com que procura saber. Antes disso é preciso saber o que quer e levar em conta consequências e conquistas.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Amar é Despertar

















Que a claridade esteja conosco, como um golpe rápido e severo de um galo cantando. Avisando para você acordar. O sol nasce e uma voz cresce. A voz do acordar, ela grita de forma reluzente e expande o som. Som do sol nascente, som do despertar.

É hora de acordar, no caminhar iremos aprender a viver, a ficar, a soltar, aprender e libertar. Crer, julgar e descrever. Sofrer. Procurando um sentido para viver, estaremos sempre à caminhar, aprender e construir. Procuramos analisar, procuramos ver e racionalizar. Muitas vezes pensamos em desacreditar, mas com o toque no olhar, um simples gesto pode nos fazer amar e despertar. Voltar a crer,  a viver com a luz no olhar. 

As vezes uma mágoa vive no olhar, difícil de lidar. Esse  acolhimento aguarda alguem que perceba. Alguém queira ajudar, alguém que também possa amar. Jamais irá resolver, porque você não deve depender, apenas despertar, para ascender a luz no seu olhar. 

O acolhimento ao desconhecido é o começo de um amor destemido, desafiador e ousado, esse amor é bem armado, precifica uma vida que até então não tinha preço.  Amar é técnica, habilidade e destreza, que requer treinos e armas. Como um golpe severo e preciso, assim como galo a cantar, no acordar do despertar.

No amor há um reino em que todos os homens podem sentir, onde não tem como se ferir. Amar é compreender, amar é se doer, amar é se doar. Amar é liberdade, amar é se entregar, sem sofrer, sem se entregar.

Amar é acolher, amar é compreender, amar é viver. Amar é despertar. 

Como um golpe severo e preciso, assim como galo a cantar, no acordar do despertar.

Onde a mente pesa é onde a verdade se esconde. Mente que foge, repentinamente,mente demente. Onde procura as sombras para se acolher. Porque no despertar, há uma dor em acordar quando o galo começa a cantar.

Não é simplesmente amar, é aprender a desenvolver a arte de amar, é ter armas e técnicas para lutar. Amor sem treino é amor sem reino.

Amar é acolher, amar é compreender, amar é viver. Amar é despertar.

Como um golpe severo e preciso, assim como galo a cantar, no acordar do despertar.


sábado, 9 de outubro de 2021

Tai chi - O guerreiro suave

 







Tai chi - O Guerreiro Suave

Na arte do tai chi a força é imprudente
O equilíbrio é valente, sem disputa, sem guerra. O guerreiro procura a paz crescente em sua alma remanescente.

O guerreiro é suave mas a postura é severa, o guerreiro é suave mas a postura é bela. Não perde a elegância, como a lótus que sobrevive na lama, sem arrogância.

O amor é pleno e suave , o contra ataque tem um tom grave mas sereno e suave. Sereno e suave, sereno... e... suave.

O guerreiro é suave mas a postura é bela, postura severa e sutil. 
Não perde o valor quando se te amor.
E quando tem a dor, aprende a lição, em constate mutação o guerreiro aprende a lição. Porque nada é fixo nem permanente, assim como sua mente que se extende o amor , sem sofrimento sem dor.

O guerreiro é suave mas a postura é bela,
E que assim seja a beleza da arte do tai chi
Por nela aprendemos suavemente a lutar na elegância, sem arrogância, como a lótus na lama.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Arco de Guerra

Para uma pessoa especial





















Arco de Guerra 

Guerreira procura a flecha certeira. Uma habilidade estreita, que o mundo respeita.
Qualquer passo em vão e o alvo perderia a precisão, acerto sem razão. 

Ancorada na terra a força a eleva, de forma precisa com os pés ela pisa.
Para que assim possa seguir o caminho de uma vida concisa.

No acerto ao alvo tem um rosto limpo e translúcido, algo que ela eprecisa. 
Rosto sutil e delicado mas também bravo e determinado.

Banhado pelas aguas limpas o rosto e o arco é renovado, 
não tendo desculpas para as sujeiras que estavam intrusas.
O que é seu está guardado.
E que o alvo seja correto para seu sonho ficar concreto. 

Com amor e respeito, a seriedade preenche peito esquerdo, 
a severidade da busca é nítida, de uma força oculta e mística.

Um dia a flecha da verdade irá se revelar em seu caminhar. 
O vento bate a mira alinha, a agua limpa e a terra acerta. 
Guerreira da flecha certeira

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Três animais alimentando um viajante - Conto Budista

Eu assistia muito cavalheiros do zodiaco quando era criança. É é um anime que tem muitos ensinamentos. Na minha infinfância esta parte me tocou.  Recentemente fui pesquisar sobre o conto do Shiryu quando Andrômeda esta queimando o cosmo para salvar o Yhoga que está congelado sob o zero absoluto.



A galera tira sarro dessa parte, mas eu acho que não entenderam a mensagem 😑.  Este conto me dá até arrepio.

Yhoga é sempre motivo de zoação por tem uma personalidade mais sutil e feminina do que os outros cavaleiros, e tem algo único do que os outros... a sensibilidade e o amor. O sacríficio pelo outro.






Shiryu cita o conto que aprendeu com seu mestre. 

"Vou contar esta lenda linda
Cheio de toda a sinceridade.
De três animais mais lindos
E que demonstraram sua caridade.

Certo dia, um viajante caminhava
Mas estava bastante cansado.
Quando estava num chão faminto
E assim parece que estava acabado.

Quando um Urso que era forte
Pegou um peixe que deu para comer.
Assim o viajante ficou agradecido
E que assim teve que fortalecer.

A Raposa que é muito veloz
Trouxe na sua boa a uva para se alimentar.
O Viajante experimentou dela claramente
E assim ele teve que se fortificar.

Uma Lebre que não tinha nada
Nenhum alimento para oferecer.
O que ela fez isto que é dar a sua vida
Para que ela jogasse no fogo para morrer.

Esta é uma prova de amor
De uma lebre que foi heroina.
De alimentar um pobre viajante
E isto é tudo que fascina.

Os dois animais perceberam
Que a lebre fez por amor.
Os animais ajudaram ao viajante
Com todo o seu Maior fervor"

Em algumas versões do conto o urso e a raposa depreciavam a lebre pela "inutilidade" e incapacidade. Quando de repente a lebre foi a que mais demonstrou amor e compaixão pelo viajante. Ela não se importava em fazer o bem mostrando suas habilidades, não tinha o orgulho da falsa ajuda para parecer bonito. 

Então os outros animais ficam comovidos e aprendem a lição que o bem deve ser feito pelo coração e não pela mente. Que também aqueles parecem inadequados ou inaptos podem ter um grande coração do que aqueles que são dotados de habilidades externas mas nunca no internas.

 





"Se sacrificar por alguém, por algo ou um bem maior é glorioso. Quando digo se sacrificar não é diretamente no sentido de dar sua vida por essa causa (mas também pode ser, se for numa situação extrema). Se esforçar pelo bem de uma pessoa digna e necessitada ou por uma causa qual seja merecedora de ser defendida são apetrechos de uma pessoa honrosa. Como exemplo disso, está abaixo uma história que Buda contou para seus discípulos"

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Pesquisa científica - Campanha Van Gogh | Samsung Nx

Samsung - O Marketing que Imortaliza as Selfies

Allan Barbosa Nagy

 São Paulo














RESUMO

Este trabalho tem como objetivo fazer uma análise sobre o suposto uso da Arte na Publicidade. O uso discursivo da peça aborda reflexões sobre as práticas cotidianas de uma cultura popular que se comunica diretamente no contexto das belas artes. O uso emblemático do artista Van Gogh é inserido em uma prática realizada em redes sociais e na web a “selfie”. Baseando-se em Zygmunt Bauman. Abordaremos reflexões sobre a fugacidade do comportamento cultural moderno em relação à selfie. O anúncio em contrapartida está inserido com uma proposta da perpetuidade e imortalização dos hábitos modernos, utilizando-se a linguagem da arte. Notamos estritamente todos os fundamentos discursivos das belas artes que contribuem para ideia de sofisticação e imortalização de um comportamento cotidiano, tirar selfie. Será retratado também a funcionalidade da propaganda no contexto atual, que se utiliza do hibridismo cultural para aproximar o espectador. Esta análise será embasada através do conceito apresentado pelo antropólogo Néstor Garcia Canclini.

Palavras-chave

Publicidade e Propaganda: Imortalização, refinamento da cultura popular, Samsung.

O Produto da peça publicitária refere-se à Samsung Nx mini, uma câmera desenvolvida para prometer “Selfies Perfeitas” segundo a empresa. Tem uma tela articulável para cima (visor Flip-Up) de 3 polegadas com lente de abertura ampla intercambiável que compete com os smartphones. A Samsung promoveu o produto utilizando três peças, cada uma ressalta um artista reconhecido em pinturas famosas de autorretrato deles mesmos. Os artistas são: Vicent Van Gogh,Frida Kahlo e Albretcht Dürer.


A peça demonstra os pintores segurando a câmera para obter o melhor ângulo de autorretrato. Todos fazem referência aos auto-retatos originais dos artistas presentes no visor da NX. A campanha da Samsung Nx foi produzida pela agência Leo Brunet da Suíça, em Zürich e publicada em 2014.


    Campanhas Anteriores:



   Campanha do Van Gogh :


A propaganda da Samsung Nx Mini faz o uso emblemático do artista Vincent Van Gogh. Ele está posicionado de costas para o observador segurando uma câmera em sua direção, com a intenção de tirar uma foto própria. Sua mão além de carregar a máquina fotográfica, contém manchas de tinta. A câmera abrange uma tela de led que mostra seu rosto em primeiro plano. À sua frente localiza-se uma escrivaninha do qual estão distribuídos alguns objetos: uma navalha, um cachimbo sobre um prato de píres,um recipiente de vidro e uma vasilha de barro contendo girassóis. A mesa apresenta alguns fragmentos dispersos de fumo e uma rolha de garrafa. Reparamos também o chão assentado com pisos de madeira de MDF.Por trás da escrivaninha se situa uma parede azulada próxima à cor de seu paletó, onde está emoldurado um quadro impressionista. À sua direita, temos uma luz entardecida e reluzente saindo de uma janela e indo em direção ao artista, realçando aspectos naturais do cabelo.


Método de Analise

A imagem contém diversos elementos e para uma interpretação aprofundada, o desmembramento destes elementos serão melhor avaliados se forem baseados no estudo da Fenomenologia.

“Fenômeno é qualquer coisa que aparece à mente, seja ela meramente sonhada, imaginada, concebida, vislumbrada, alucinada [...] Um devaneio, um cheiro, uma ideia geral e abstrata da ciência [...] enfim, qualquer coisa. (SANTAELLA, 1995, p. 16).”

 

Dentro da Fenomenologia, utilizaremos o estudo da semiose, desenvolvida por Charles Sanders Pierce, a ‘’Teoria Geral dos Signos’ ’Pierce apresenta a compreensão de signo, como uma representação de qualquer coisa que esteja em relação à outra. Para ele, os objetos possuem qualidades particulares e intrínsecas. A relação destes objetos com o indivíduo é uma forma de representar algum aspecto ou característica relacionada ao real.A peça é um anúncio impresso para as plataformas de mídia e revista. Iremos destrinchar a imagem que compõe diversos elementos através destas três camadas definidas por Peirce:

“Á três categorias lógicas e universais a que se reduzem os fenômenos absorvidos pela mente humana, pontos para os quais tendem a convergir: a categoria de primeiridade (mônada), secundidade (relação diádica) e terceiridade (relação triádica). A primeira categoria que determina um estado do fenômeno relaciona-se às ideias de casualidade, aleatoriedade, indeterminação, espontaneidade, presentidade, imediaticidade - é mônada. A secundidade se referência à formação de conflitos, ação-reação, é díada. Já a terceiridade está ligada à generalidade, continuidade, representação – é tríada (SANTAELLA, 1995)”

A peça contém diversos elementos compostos que se referem ao artista (a secundidade). A análise também serve para compreendermos os discursos persuasivos da publicidade presentes na terceiridade; a representação e simbologia. Também observamos a o discurso através da composição de cores e enquadramento fotográfico. Estes aspectos sugerem impressões causadas na primariedade, aquilo que é.


Primeridade

 

"Consciência em primeiridade é qualidade de sentimento e, por isso mesmo, é primeira, ou seja, a primeira apreensão das coisas, que para nós aparecem, já é tradução, finíssima película de mediação entre nós e os fenômenos.

Qualidade de sentir é o modo mais imediato, mas já imperceptivelmente medializado de nosso estar no mundo. Sentimento é, pois, um quase-signo do mundo: nossa primeira forma rudimentar, vaga, imprecisa e indeterminada de predicação das coisas." SANTAELLA, Lucia. O que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2007

 

Na peça publicitária as primeiras impressões são o uso das cores, que tem como preeminência as cores primárias. O azul é a cor predominante; sendo mesclada com tonalidades da mesma família. Os elementos principais do cenário variam entre azul bebê e azuis esverdeados que formam um conjunto sensorial de uma possível percepção do azul turquesa. Observamos que um dos primeiros elementos captados pela imagem é o cabelo alaranjado do artista que, em segunda instância; se complementa com o segundo elemento direto, o terno azul (Laranja e azul são cores que complementares). Na terceira instância temos uma câmera fotográfica sendo segurada e posicionada em direção ao próprio Van Gogh. A imagem que aparece na tela de led da câmera é seu rosto. Por fim declinamos o olhar mais à direita, contento girassóis, e por trás deles existe uma parede azulada, contendo uma textura rachada. A parede entra em harmonia com todos os elementos primordiais do cenário, contudo; o peculiar é a sensação de profundidade que lhe é concedida. A parede do quarto contribui para dar o sentido de dimensão da imagem. O plano de fundo só foi possível graças ao enquadramento ‘’over the shoulder’’ que o artsita está posicionado. O enquadramento cinematográfico ‘’sobre ombros’’ sempre tem uma direção orientada á algum objeto. Na peça publicitária o objeto orientado seria a câmera Nx e a parede rachada do quarto. Em segundo plano, os girassóis que estão sob uma mesa de madeira com alguns detalhes distribuídos. Seguimos o olhar para cima, onde há um quadro emoldurado no estilo impressionista. Na terceira instância nota-se uma a janela com uma luz entardecida também sob perspectiva de profundidade graças ao enquadramento tridimensional.

Secundidade

 

“A secundidade está ligada às ideias de Dependência, determinação, dualidade, ação e

reação, aqui e agora, conflito, surpresa, dúvida”(SANTAELLA, 2002, p.7).

 

O azul apesar de não corresponder com a tonalidade do azul claro em sua obra “O quarto em arles” é facilmente associada à ela, assim como o chão de madeira e a mesa. O terno do artista é um índice de fácil identificação, que está


presente em suas obras como ‘’auto retrato’’ (1889). A tela da câmera também indica a obra “Auto Retrato” que está no reflexo da imagem apresentado no led do aparelho. A campanha brinca com a referência da obra associando-a com uma jogada da frase “For Self-Portraits, not for Selfies” essa frase sugere a atitude do artista tirar selfie: auto-retrato, além da própria obra Auto-retrato presente na câmera.Temos também um girassol sobreposto na mesa sendo uma referência de sua outra tela “Doze Girassóis numa Jarra” (1888) , natureza morta presente em obras impressionistas. Além destas obras, o azul relembra o mesmo uso de cores como Noite Estrelada, Estrada Com Cipreste entre outros. Segundo o artigo da folha produzida por Nina Siegal “Desde muito cedo em sua vida artística, Van Gogh usou molduras de perspectiva para se orientar e desenhou sobre a tela para obter a representação correta de proporções e da profundidade de campo de suas paisagens”. A própria profundidade dada na peça através do plano “over the shoulder” é também uma relação indicial de uma característica única, presente no elaboramento estético dos quadros do artista.

Terceridade

 

‘’A terceiridade diz respeito à generalidade, continuidade, crescimento, inteligência. A forma mais simples da terceiridade, segundo Peirce, manifesta- se no signo, visto que o signo é um primeiro (algo que se apresenta à mente), ligando um segundo (aquilo que o signo indica, se refere ou representa) a um terceiro (o efeito que o signo irá provocar em um possível intérprete). (SANTAELLA, 2002, p.7) ’’

O elemento principal que sustenta a peça publicitária é a inserção do artista, Van Gogh é uma figura forte e notável que atua na propaganda como um símbolo. Nesta circunstância, o símbolo gera uma sensação de algo sofisticado, associado diretamente com o produto da Samsung. Van Gogh é o pilar que promove a maior parte da argumentação do anúncio, o texto que diz “Para autorretratos. Não para selfies” complementa a ideia de requintamento. A mancha marcada sobre a mão do artista também contém um significado mais profundo, além de funcionar como índice (aponta que ele havia acabado de reproduzir um quadro) elas estão registradas na mão de Van Gogh. Neste sentido a mancha tem um valor muito mais glamoroso do que simples marcas de tintas dispersas em uma mão qualquer. Tomamos a mesma linha lógica para câmera NX, a foto na tela de led além de representar um ícone que faz referenciarão à sua obra, também está sendo registrada por um ídolo do impressionismo. A luz que ilumina seu cabelo toma uma interpretação ainda mais reluzente, sugere que Van Gogh possui um talento natural porque a luz do sol faz parte da natureza; e esta naturalidade (o talento do artista) está diretamente interligada com algo concedido pelo divino, já que luzes reluzentes são facilmente associadas ao celestial ou algo sagrado. Esta mesma luz estando sobreposta em sua cabeça induz que toda esta ‘’divinização’’ também


penetra em sua mente, que lhe concede a habilidade criativa para produzir seus quadros emblemáticos. As tonalidades de luz que atravessam a janela, geram uma percepção de tempo para a imagem, o entardecer. O período vespertino muitas vezes está interligado com a singularidade do indivíduo, aquilo que é pacífico e reconfortante, reflexivo e nostálgico, quer dizer um momento único. O chão de madeira está reformado, bem mais agradável do que o chão de madeira do “Quarto em Arles”, também significa um Van Gogh novo, moderno, atualizado desprovido de sua angústia e sofrimento que retrata durante sua vida nos quadros. O artista sofreu inúmeras decepções sendo reconhecido apenas após a sua morte, mas este Van Gogh não é aquele mesmo símbolo representado nas artes, é mais otimista. Não só o chão, mas o ambiente no geral apresenta-se mais confortável. Sua mão direita está carregada de algumas manchas de tinta e este aspecto também propõe que a própria câmera simboliza um pincel, porque está sendo segurada pela mão. Ele utiliza a câmera como um instrumento para fazer uma foto que está sendo representada em uma de suas obras. Neste sentido a produção da obra “Auto- retrato” é feita sem o pincel, com uma câmera. O pincel é um instrumento íntimo e particular que todo artista clássico usufrui, a câmera tem a mesma conotação.

O artista é aquele que sabe expressar das melhores formas possíveis os seus sentimentos, pensamentos, críticas e sensações humanas através do uso da estética. Os primeiros conceitos de arte; estética; feio e belo surgiram na Grécia antiga. Pensadores como Platão e Aristóteles investigaram a fundo, tornando se precursores sobre o assunto da arte e estética. Diferente de Platão, Aristóteles acreditava que a arte era uma meramente humana, dissociada do divino; em específico dissociada do mundo das ideias defendidas por Platão. Seguindo esta conclusão, Aristóteles afirma que as artes poderiam transgredir o real, elas caem em um campo simbólico que permite trabalhar o surreal e o improvável, estes dois aspectos conceder o sublime. O filósofo grego defende que a arte é capaz de preencher o que ainda faltaria na natureza. Outros pensadores mais à frente confirmam esta hipótese, podemos seguir uma frase bem assertiva de Nietzsche “Temos a arte para que a verdade não nos destrua”. A arte abre espaço para expressão de algo além do palpável, representando o intangível. A luz do entardecer presente na peça além de transmitir “o belo”; aquele concedido pelo divino segundo Platão, também abre espaço para Aristóteles. Como dito anteriormente, tarde é um período ligado à introspecção, autoconhecimento. Esta sensação é reforçada quando Van Gogh encontra-se ‘’isolado’’ em seu quarto, explorando seu interior, procurando conhecer e manifestar seus sentimentos. Com este discernimento, constatamos o discurso persuasivo da Samsung: a câmera é o pincel, onde o artista está testando suas habilidades. Tirar a foto de si mesmo significa que ele estaria explorando sua subjetividade, similar ao pintar um quadro que represente suas sensações. A câmera funciona neste contexto


como um símbolo, representa um pincel artístico ou um objeto que permite ressaltar o indivíduo, enaltecer habilidades desconhecidas, habilidades estas que podem ser divinas, que podem dizer muito sobre o próprio sujeito. Com a Samsung Nx o sujeito além de todas estas possibilidades, chega a expressar algo que estaria a faltando na natureza(seja ela interna ou externa), preenchendo uma lacuna. O Psicanalista Jacques Lacan afirma através de seus estudos da linguística, as palavras não são suficientes para a expressarem os sentimentos de forma precisa. A sua frase afirma “A verdade só pode ser dita nas malhas da ficção”.

História da Selfie

 

Tirar selfie é um comportamento bem comum e constante em redes sociais, o ato foi tão ‘’viralizado’’ que chega a ser saturar a rede. Mas para compreender a causa deste fenômeno na comunicação iremos abordar o surgimento do fenômeno. Depois dos autorretratos pincelados, surge o primeiro indivíduo que tira uma foto de sí mesmo:



“Outubro ou novembro de 1839, Robert Cornelius tinha cerca de 30 anos, quando montou sua própria câmera fotográfica na parte de trás da loja de lâmpadas de seu pai, na Filadélfia (EUA). Ele definiu um cenário, removeu a tampa da lente, correu para a frente da máquina, ficou imóvel por cinco minutos antes de disparar e substituir a tampa da lente. Foi assim que surgiu o primeiro autorretrato que se tem notícia na história da humanidade.

Satisfeito com o resultado do primeiro ‘selfie’, Robert Cornellius tornou-se um fotógrafo especializado em retratos, mas só conseguiu manter o negócio durante dois anos, quando teve que voltar ajudar o pai na fábrica de lâmpadas. Robert Cornellius também era um bom químico e conseguiu desenvolver muitas patentes para a melhoria dos projetos de iluminação. A fábrica do pai virou a maior empresa de iluminação da América e Robert Cornelius tornou-se um homem rico. Ele morreu em 1893, aos 84 anos.

A história foi contada pelo site Mashable, especializado em tecnologia. Com 50 milhões de pageviews mensais, o Mashable foi eleito um dos 25 melhores em 2009 pela revista “Time”

Existe uma hipótese bem provável que a definição da palavra tenha sido originada por um estudante australiano. Em 13 setembro de 2002 houve a menção da selfie através de um fórum australiano, quando um indivíduo descreve uma foto tirada enquanto estava bêbado em uma festa de aniversário, sofrendo um acidente. Suas palavras foram:

"Um, drunk at a mates 21st, I tripped ofer [sic] and landed lip first (with front teeth coming a very close second) on a set of steps," said the posting. "I had a hole about 1cm long right through my bottom lip. And sorry about the focus, it was a selfie."


"Hum, bêbado em um amigo de 21 anos, eu tropecei em [sic] e acertei o lábio primeiro (com os dentes da frente chegando em segundo lugar muito próximo) em um conjunto de passos. Eu tinha um buraco de cerca de 1 cm de comprimento no meu lábio inferior. E desculpe pelo foco, era uma selfie."




O australiano era chamado de ‘’Hopey ‘’no ambiente virtual. Sua fotografia ficou famosa, mas Hopey havia tirado com a intenção de procurar conselhos sobre o ponto sem seus lábios. O estudante universitário tinha o costume constante de abreviar as palavras com a propensão de terminar palavras com ‘’ie’’ ou “ey”.

Anos depois, em 2013 o dicionário Oxford adota a palavra Selfie, mas antes disso o termo começou a se tornar popular devido ao ex-primeiro ministro Kevin Budd, que divulgou na mídia tradicional.

A editora do dicionário, Katherine Marthin afirma que os australianos possuem uma tendência típica de encurtar palavras e terminar elas com “ie”.

"Parece provável que tenha se originado no contexto australiano [...] A evidência mais antiga que conhecemos no momento é australiana e se encaixa com uma tendência em inglês australiano para fazer palavras engraçadas com esse final" ie ".

A diretora editorial de Oxford, Judy Pearsall disse que o termo ajudou o empreendimento narcisista se tornar mais encantador e cativante, devido ao uso de diminutivo.

"The use of the diminutive -ie suffix is notable as it helps to turn an essentially narcissistic enterprise into something rather more endearing," editorial director Judy Pearsall said in a statement. ”


O que representa a selfie?

 

O termo selfie também serviu para diferenciar o Auto-retrato ou porta-retrato de uma foto momentânea, que na maioria das vezes é apenas digital. Enquanto os retratos são formas de uma expressão mais longínqua e memorável, as selfies são instantâneas e passageiras, produzidas em grande escala de modo que as fotos anteriores acabam sendo esquecidas ou deixadas de lado. Esta reação fugaz e incessante de tirar fotos consecutivas vezes são reflexos sociais de uma modernidade líquida, defendida pelo sociólogo Zygmut Bauman.

“O líquido é mais do que frágil. A relação líquida não é uma escolha entre ambas as partes que, coincidentemente, é uma escolha pela dificuldade em firmar laços profundos. É uma relação que emerge em um conjunto de instituições, regras, lutas e sistemas simbólico, político e econômico definidos em uma estrutura social particular”. (BAUMAN,1999)

A liquidez definida pelo pensador, sugere que os objetos, relações humanas e instituições estão cada vez mais transitórias: “Vivemos em tempos líquidos, nada é para durar”. Segundo o autor, esta liquidez está presente não só nas relações, mas sua principal crítica é a respeito da indústria comercial. Os produtos não são duráveis propositalmente para que sejam produzidos outros no lugar dos antigos. As modas produzem novas tendências que andam juntamente com as intenções do marketing. Em curto período de tempo lançam novos modelos e designs de smartphones, roupas, tênis e etc. as selfies representam a transformação das pessoas produtos líquidos, idêntico á logica das indústrias. As fotos sempre tendem a se atualizar, mas todas mantem o mesmo layout, enquadramento e padrão. Poucos aspectos mudam da mesma forma que o Smartphone Galaxy J7 se atualiza para o Galaxy J7 Prime; existem algumas funções diferentes, mas o produto é bem idêntico ao seu primário. Nós sabemos diferenciar quando uma foto é selfie ou não, através dos padrões estéticos estabelecidos pelos comportamentos sociais na web.

Por que tirar selfies?

Issaf Karhawi da Universidade de São Paulo publicou em 2015 o artigo “Espetacularização do Eu e #selfies: um ensaio sobre visibilidade”. Em sua análise, ela defende a hipótese de que selfies :

 

"São caminho pelo qual o sujeito contemporâneo passa para consolidar seu próprio Eu”. Para a pesquisadora, houve um processo histórico até chegar no homem egocêntrico moderno. “É importante compreender como chegamos até um momento social em que a Imagem de si passa a ser valiosa. A evolução do homem e seu reconhecimento como ser dotado de particularidades é um longo processo na História já que “o eu‟ nem sempre foi soberano” (DE SANTI, 2009: 14).

Durante o discorrer do artigo, a autora se baseia na transição histórica entre a Idade Média ao Renascimento:

“A passagem da Idade Média para a Idade Moderna também constrói um novo regime de visibilidade. Com o Renascimento, a sociedade começa a testemunhar o Enfraquecimento da Igreja, “[...] Deus parece ter se afastado para o céu, deixando o Mundo a cargo dos homens” (DE SANTI, 2009: 21). É o nascimento do pensamento Humanista; o homem como o centro do mundo e não mais como parte de uma Engrenagem divina [...] Mas ao mesmo tempo em que a liberdade é dádiva, ela é também angústia”. A nova valorização do ser humano e a imposição de que ele construa sua existência e descubra valores segundo os quais viver, aliada a toda a dispersão e fragmentação do mundo [...], levarão à tentativa de criação de mecanismos para o domínio e formação do eu (DE SANTI, 2009: 36)”

 

O modelo de homem atual precinte na autoafirmação do eu e de sua existência, esta afirmação se manifesta através dos registros cotidianos. O ato de registrar é importante para que fortaleça o significado de sua existência.

Para Espinoza, a vontade de poder ou elã vital é uma espécie de necessidade do homem de manifestar sua essência para que fique registrada na história, através de objetos, pessoas ou da própria natureza. Na perspectiva Nietzschiana o homem deseja perpetuar a sua imortalidade, sendo a transgressão realizada através de um registo, um legado. Constatamos diversas maneiras afirmar o legado: Ter filhos, possuir riqueza, produzir uma obra ou algo que seja significante para alguém ou para o mundo. Mais à frende Freud irá dar o nome de “Trieb” que significaria pulsão e instinto residente na estrutura psíquica.


Observamos a vontade contínua dos indivíduos de serem lembrados e notados através da selfie, contudo, o cenário se torna um palco irônico já que estas memórias são muito liquidificadas (BAUMAN). A futilidade, ignorância e falta de criatividade dominam grande parte das massas. Essa massa segue as instruções das mídias e das tendências que sugerem as formas mais liquidas de manifestar sua potência. Deste modo o sujeito não encontra outra forma criativa de manifestar sua existência, ele consolida sua identidade através de produtos da moda, gerada por artifícios estrategicamente mercadológicos. No fim são tantos dos mesmos.


A melhor forma de entender esta realidade é através de uma comparação metafórica: O indivíduo quer evidenciar a sua potência em um palco de teatro e não tem nada para oferecer, apenas sua presença. Ele se torna um personagem secundário ficando como plano de fundo, muito parecido com os outros personagens que também estão. Mas este sujeito não se importa e nem nota que é apenas mais um, ele já se satisfaz por apenas estar presente no palco sendo observado pelos outros, ele faz caras e bocas para aparecer. Ele é uma espécie de decoração do cenário, um produto que além de preencher o palco acaba promovendo o teatro, mas nunca promove a si . Ele promove grandes marcas carregando roupas que o teatro ganha em cima do merchandising.


Hibridismo na Campanha

A flexibilização da peça é outro aspecto interessante, não só vivemos em tempos líquidos, mas também híbridos. A selfie é uma cultura popular que dialoga com o erudito, não existem mais barreiras culturais entre o simples e refinado. A peça apresenta-se deste modo, adaptável e versátil. Ó hibridismo retratado na peça publicitária é totalmente alinhado com a realidade das artes atuais, o que facilita a aproximação do espectador em seu contexto moderno.

 

A definição de hibridismo cultural do antropólogo Nestor Garcia Canclini propõe o ato de “desterritorialização”. O objetivo de “descolecionar” camadas culturais, proporcionando a divisão destes bens. O hibridismo é fluído mas também não busca a preservação de memória, origem ou tradição. As artes são mutáveis e podem ser fundidas. Neste sentido a publicidade está frequentemente bebendo da fonte das artes para gerar seu movimento, misturando um recurso poderoso, encantador e sublime de forma que ele se hibridize com a “intenção de marketing”.

“O hibridismo cultural, para o autor, traz consigo a ruptura da ideia de pureza. É uma prática multicultural, possibilitada pelo encontro de diferentes culturas.

Processo analisado pelo autor, nos movimentos artísticos verificados na América Latina” (SOUSA,2013. processo de hibridação cultural: prós e contras)


Conclusão

A peça publicitária aborda um problema e uma solução. Selfies não são legais, porta-retratos são “selfies ”melhoradas. Para que a efemeridade da selfie possa se imortalizar a peça usa o diálogo das artes. O hibridismo presente na peça abre possibilidade para um leque maior de público alvo, não se restringindo apenas à conhecedores de belas artes. A Samsung lança um produto aproveitando-se estrategicamente do contexto atual, o egocentrismo e a potencialização do eu que está presente no âmbito coletivo. Van Gogh é imortal, uma imagem simbólica que defende a principal ideia da peça. Um

porta-retrato tem mais longevidade se comparado à uma selfie, esta selfie passageira pode vir a ser uma porta retrato, pode tornar aquilo que é momentâneo em eterno. Ser eterno é ser lembrando, a imagem do artista tirando a foto sugere que o espectador possa transgredir seu eu para algo maior do que um fenômeno temporário, assim como Van Gogh o fez.