A velha Gata Ainda Mia

Regina Duarte quebra paradigmas de seus papéis já feitos, nunca foi como “A gata velha ainda mia”.

O filme explorou muito bem a atriz, criando um personagem antagonista muito complexo, sinistro e saudosista.

Gloria Polk é uma escritora muito credibilizada que apesar de ser famosa e respeitada entre pessoas cultas, tenta voltar a escrever seu livro após 17 anos em busca do reconhecimento e audiência ainda maior como antes em sua época de ouro.

Barbara paz interpretada por Carol sendo uma jornalista jovem que por ironia do destino, é casada com antigo esposo de Glória.

Carol possui uma admiração sólida por Glória, que abre um espaço para uma entrevista.

Glória apresenta logo de início uma indagação da vida, refletindo sempre o saudosismo na época em que tinha fama e destaque. Ela compartilha suas angústias à Carol.

Por um lado as duas têm uma conexão próxima de compreensão e sentimentos, mas ao mesmo tempo é uma conexão bem afiada e atiçada.

Com uma pitada de discursos autoritários, sendo até muitas vezes raciocínios apoditicos, é notável que Glória utiliza-se de sua credibilidade bem autorizada como prestígio para impor suas idéias de “verdades absolutas” juntamente à seu  teor de grosseria e indelicadeza.

O que se torna nítido é seu sofismo perante suas falácias de “argumentum ad verecudiam”, sendo que; em alguns momentos podem estar certos, mas juntamente com esta propriedade sofista.

Glória apresenta muita tensão e paranóia, mas unido com sua Inteligência consegue seduzir Carol para seu mundo, em alguns momentos apelando até para uma estrutura de linguagem enfática nas cenas do qual ela dança.

A entrevistadora aparente ter uma ingenuidade que juntamente com a admiração cativante da escritora, acaba caindo em um jogo de conflito entre ambas, que no fundo, ela sabe que algo está errado, mas se deixa levar pelo amor intelectual incorporado de diversas formas.

Carol tem algo que Glória o quer, sua família e seu marido, e para isto ela utiliza de todas estas façanhas para alcançar seu objetivo.

O Final causa um nó na cabeça, não deixa nada pronto e mastigado, mas por outro lado não deixa nada explicado também. Dando a opção para espectador escolher um dos três finais da história, e também dá a entender para muitos que existe um final mais plausível no filme.

O ambiente local é muito claustrofóbico, fechado, a luz amarela e o apartamento pequeno. Mas as filmagens do filme tiveram a genialidade de trazer este sistema para focar e incluir o espectador no universo.

Este fechamento concentrado em um único ambiente e apenas três personagens faz do filme trazer uma fixação do qual perdemos a noção de tempo e espaço da vida real, tornando rápido, ansioso, frenético, e ao mesmo tempo dialético. 

Pouco custo e muito enredo com conteúdo, é uma das qualidades que A Gata Velha ainda Mia contradiz em relação à filmes hollywoodianos.