Apenas uma introdução de um conto inspirador! (Podendo até virar um livro)
Prólogo
Um curandeiro que carrega o nome Rudá Raoni, um entre os pajés mais sábios de sua região local, teve uma previsão tão clara que viraria uma profecia. Apesar da profecia parecer não ter sentido, ou até mesmo correr por caminhos que poderiam subverter valores da tradição local. Entre as bocas da tribo, soava como uma profanação. Entre os mestres, uma dúvida. Entre os sábios, uma certeza. Entre mestres sábios, uma verdade. Quebra de valores consiste também em mudanças para iluminar o mundo. Nos feixes de luz emanados pelo espírito dos mestres e anciões das mais antigas religiões, carecem de forças mutáveis não tradicionais. A espiritualidade se renova assim como o mundo material. É bem provável que alguns feixes de luz já estão desgastos, manjados. São necessários novos métodos, novas emanações vibracionais, novas cores de luz, novos meios de se criar caminhos, novos caminhos para se criar meios.
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Por onde Rudá andava, os lobos o seguiam, dois. Baltor tinha pelos brancos como a neve, com olhos vampíricos. Podia ver os mortos e espíritos obsessores. O homem dos lobos possuía um olho deles, do qual havia trocado o seu com seu animal. Mas para poder ver através da visão dr Baltor, era necessário o mesmo estar ao seu lado. Atravéz dos olhos da morte, Rudá encaminhava os malfeitores com cantos e rezos realizados pelo sopro do tabaco. Com o sopro correto podia direcionar as almas que aceitariam o livramento das sombras que predominantes
Ankor tinha pelos marrons terracota, lembravam as montanhas navajo. Os olhos as vezes ficavam tão escuros que em alguns momentos ocultava a sua pupila. Carregado de segredos, eram olhos que despertava a curiosidade dos homens insensatos. Ankor também era outro que tinha um de seus olhos trocados com o Pajé. Os olhos de Ankor serviam para equilibrar os olhos de Baltor. Um olhar branco veria almas e espíritos. Um olhar marrom veria a terra e as ancoragens. Ancoragem a matéria para ver a realidade física, ver a essência e natureza por trás das matas ou por trás das coisas. Olhos da terra, olhos da morte, um branco, outro marrom. A combinação da dança vida.
A Profecia
Enquanto Rudá colhia o pé de tabaco em uma tarde ensolarada, ao tocar na planta escuta sua voz. Grande voz do pai e avô tabaco. A voz dizia:
- Filho sabes que tem uma missão final por aqui. Aprendeu tudo que já precisava, mas há uma última lição. Saiba que vamos atender o seu pedido. Poderá partir após completar a tarefa final. Para haver um novo ciclo, dando início outras tarefas finais. Para o fim do ciclo dando início a outras tarefas iniciais. Sem resposta sem fim ou início, apenas sentido, um dia fará sentido.
O pajé disse:
- Meu pai, não desejo partir. Tenho amor a este mundo, tenho amor a ti, a mãe e aos seres.
A planta responde
- Seu desejo sem resposta sem fim ou início, apenas sentido, um dia fará sentido. Assim ja foi dito.
- Tal desejo não veio ainda, entendo. Só não entendo por que desejar acabar com uma vida antes de seu tempo.
- Seu desejo sem resposta sem fim ou início, apenas sentido, um dia fará sentido. Assim já foi dito. Não alimente pensamentos, apenas movimentos. Sexta-feira é lua cheia, seu movimento é preparar o chá da mãe e amassar as folhas do pai. Da chacrona, da Mariri e do tabaco, iremos lhe mostrar.
- Assim foi dito. Apenas movimentos, entendido.
As barbas grisalhas de Ruda Raoni, cobriam quase todo pescoço, representava um sinal de uma vida com muito aprendizado. Correspondiam a atitude, equilíbrio e consciência. Assim ele seguiu, sem alimentar pensamentos apenas atitudes. Começa procurando lenha para cortar e procede na criação de seu rapé, retirado do tabaco que o comunicou. Prepara seu tabaco com rezos específicos e prepara o chá da mãe, retirado da chacrona e do mariri.
No dia seguinte, devido ao seu respeito na grande aldeia, ele reúne os curandeiros mais velhos e diz:
- Meus irmãos anúncio a vocês um chamado. Minha missão agora é abrir uma cerimônia, aberta apenas entre os curandeiros mais antigos. Se sentirem no coração o meu chamado, se for do meu merecimento, aceito entre vocês... a cerimônia será daqui a 3 dias, em lua cheia. Já tenho todos os preparativos em minha casa, temos lenha para fogueira, rapé, sanânga, tabaco e coragem.
Anori, o mais antigo e respeitado da tribo, (nome que se dava a tartaruga Tracajá ) disse:
- Raoni, Rudá Raoni meu irmão, tem respeito aqui na tribo, tem bons feitos. Tem olhos da morte, olhos da vida e mais importante, tem disciplina.
Com uma voz mais grossa, alta e forte ele prossegue:
- Aquele que não vier em sua cerimônia, será punido através das leis do pai dos pais, do criador de todos. Seja morte ou não, nós apenas lançamos a justiça divina. Sabe que não fazemos nada sem ela, nós os mais velhos só direcionamos as situações para que a justiça seja feita!
- Eu Já sei Raoni que viria anunciado, e como disse nosso mestre...
Os dois olharam entre si com foco e seriedade. Disseram em simultâneo.
"Assim foi dito!"
A cerimônia
Algumas horas antes de dar meia-noite, o fogo já estava alto carregado de fenômenos incomuns. Um deles foi as chamas que tomavam formas quase cilíndricas com pontiagudas que se dispersavam ao bater do vento, criando faíscas barulhentas e nervosas. Trazendo algum tipo de aviso. Em volta da fogueira haviam 12 curandeiros, parecido como uma espécie de parlamento ou alto conselho. Entre eles, dois anciões chefes que tomavam as decisões e direcionamentos. Ficaram um em cada ponta do círculo. O primeiro é Anori e o segundo, seu irmão Iberê. Viviam entre os 70 a 80 anos ambos tinham uma saúde juvenil com cara de 60 anos.
Aos arredores do centro da aldeia haviam matagais de grande largura e comprimento. O horário noturno era até propício para os nativos se perderem fora da aldeia, considerando os perigos, era proibido sair até determinada hora. O próprio Rudá poderia se perder, assim como muitos. Para dar acesso ao caminho da aldeia havia apenas uma trilha, criada em uma entradinha secreta sendo vigiada por dois arqueiros.
Foi decidido que o ritual seria feito no ambiente externo, localizado no centro da aldeia. Era também um espaço mágico, cercado por pedras protetoras e símbolos de selamento, para que não entre nenhum mal.
Os doze curandeiros estavam lá, Anori e Iberê ficaram na ponta da roda sentido norte enquanto Rudá se fixou a outra ponta, no sul. Iberê tinha um olhar fixo e quase desagradável frente ao xamã com olhos de lobos. Havia uma desconfiança, aquela do tipo onde "os santos não batem".
Falando um pouco deste ancião chefe, Iberê é um dos decisores pela tribo, assim como seu irmão Anori. Diferente do irmão que admira a personalidade forte e um tanto subversiva de Rudá, Iberê carregava um ciumes do irmão pelo homem com olhos de lobos. Também não podemos esquecer que o irmão de Anori preservava muito o zelo pela cultura e tradição de seu povo, tudo que diferia tornava-se ameaça para o futuro da tribo. Alteridade era natureza de Raoni, e o irmão de Iberê tinha uma intuição de que isso seria necessário para o futuro da tribo. Gostava da ideia de mudanças, andava maior parte com Raoni ao invés de Iberê.
Na cerimônia Raoni disse
- Todos vocês podem desconfiar, discordar ou não gostar de mim irmãos. Contudo, por respeito a cerimônia, aqueles que levantam olhares hostis e alimentarem pesamentos hostis do que diz respeito a minha pessoa; em nome da medicina e de todo espaço sagrado aqui dirigido, é necessário pedir perdão e correção de imediato.
Todos olharam para o norte em busca de orientação dos chefes. Iberê ficou desconcertado, olhou para baixo e depois olhou para o fogo. Anori sentiu que a mensagem foi para Iberê devido aos impasses de ambos, que eram muito rotineiros em cerimônias. Em seguida disse:
- Escutaram o homem! Quem tiver algum problema com Raoni que tomem atitude e se resolvam com ele, mas não neste espaço sagrado, muito menos em cerimônia. Aquele também que é mal visto diante do outro, deve se analisar. Deve ter compreensão por aquele que o rejeita, porque aqui ninguém é santo.
A cerimônia começou, depois de algumas horas as visões vieram no sopro de tabaco de Raoni. Anori estava muito conectado com o propósito e também sentiu que a mensagem sairia após o sopro. O homem com olhos de lobos pronunciou suas palavras com uma voz bem grossa, séria e forte, tom quase gutural, o som que saía ecoava o círculo, seus olhos começaram a criar luminosidade e os lobos uivavam carinhosamente, fazendo um som de fundo:
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