segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Édipo no existencialismo


A tragédia de Édipo sob um olhar fenomenológico

Livro - Na presença do sentido: Uma aproximação fenomenológica a questões existenciais básicas.

Capítulo 4: Culpa e desculpa ( pp 87 – 102) 

É bem possível que as coisas vivas (homens, animais, plantas) só existam porque há uma finalidade que concede um significado, a sua presença de existir no mundo. Uma ‘’causa final’’ (No sentido de cumprir papéis com finalidades) como uma engrenagem dentro de um motor.  Este motor gera vida, movimento e razão de existir, logo a existência só existe porque precisa de um significado para tal, consiste em uma funcionalidade da peça, dentro de um motor. No entanto o agente define o local para inserir esta peça, como ela funcionaria e qual o seu sentido dentro dele.  Podemos pensar: A peça (o ser que existe) com funcionamento adjacente ao motor (o mundo), assim a peça cumpre o papel de forma que o motor não altere sua natureza, mas que a sua própria natureza se altere e viva dentro este motor, contudo a peça tem certas predisposições para seu funcionamento (ela não poderia ficar pedida, sem funcionalidade). Uma razão é necessária para atribuir sua existência enquanto a peça (o ser) que age em um motor (mundo). Seria a participação no mundo ( peça que se move, vive, experiência) . Assim constatamos que ‘’a existência existe’’ porque procura a sua causa final, o seu significado. E aqui consideramos que a causa final não necessariamente requer um motor para que funcione a priori, mas a peça essencialmente carece de uma finalidade que dê sentido a sua forma, presença e existência no mundo. A peça precisa primeiramente se descobrir, para que possa firmar e autorizar sua presença no mundo de forma satisfatória, ou seja neste motor. Tudo que existe tem um motivo, uma vocação, um encontro de significado para que possa presenciar. Ou seja, o que faz o ser genuinamente existir é a sua criação dentro da criação, a procura, o encontro a finalidade. Uma espécie de sustentamento de existência. dentro ou fora do motor. Como uma “coloríficação de um desenho preto e branco”. Preto e branco porque existe enquanto forma, mas não enquanto ato (arte finalizada completa). O ato (finalizar a arte de uma forma) revela a forma como genuína. Este ato ‘’colorífica’’ uma forma (que necessita de uma cor) sua ação é o modo de existir por trás de um motivo – a vida e coloração da forma). Ela quer presencias sua arte, não ser apenas uma forma sem cor, para que assim possa contemplar a si e o que lhe apresenta, o externo. Uma arte que contempla a sua interação e participação no mundo, mas que também contempla sua própria arte por criação. Ou seja, a forma sem cor não tem destaque, presença ou vida. Vive em posição de forma, mas não em posição de arte, é um desenho vazio de presença e vida. Um esboço por esboço é viver uma forma morta, sem cor e significado. Caso contrário o resultado produz com esboços mortos, vivos enquanto forma e mortos enquanto arte não finalizada. As formas não finalizadas não possibilitam sua harmonia no vivenciar de si mesmas, assim como dos ‘’entes’’ que interagem e observam elas. Já os animais são desenhos que já nascem com esboço e com as cores, porque estão mais próximos da sua natureza pelas suas delimitações racionais que não possibilitam escolhas. O que diferencia o homem do animal é a possibilidade de escolha e encontro a sua criação como ser, ser e  “vir a ser”.  Mais que isso, qual a cor correta para si mas que também carece em uma harmonia com o mundo. Diferente de animais que já são o esboço, cor e finalização por si só.  Em suma, o que “traduz” a existência é o significado, sentido e a presença. Simultaneamente um dependeria do outro pela “causa final”, o acabamento da arte.  Esta causa que mantém as coisas existindo e presenciando e interagindo com outras coisas. Talvez essa seja uma das grandes problemáticas do ser humano enquanto existir, ser e interagir. Nós existimos mas temos dificuldades de saber presenciar a nossa existência, porque não encontramos esta “causa final”.  O próprio pensar subjetivo pode  nos confundir com o “nosso pensar no sentido”. Nem sempre o pensamento é intrínseco,  muitas vezes se elabora por uma estrutura artificial (motivos externos de inserção das experiências não autônomas. Poderiam ser: coletivas , famíliares, religiosas ou morais, assim como o aspecto biopsicossocial.) Mas além do fator externo, existe também o distanciamento interno, é possível haver uma dificuldade de descobrir e atribuir uma cor para um esboço vazio por si só.  Podemos nos confundir com o ser, que deixa de presenciar e legitimar sua vida. 

“Para ser o ser”, é preciso avançar as camadas internas do próprio pensamento pela percepção e reflexão. Afinal se somos seres racionais a razão pressupõe uma finalidade de reflexão que incitaria uma causa final como presença e essência. Aqueles que não refletem mas vivem sem atribuição de sentido possibilitam dois cenários : manifestação  de uma pessoa morta por falta de descoberta individual; ou a confusão do ser por uma aquisição do pacote externo que não o pertence, mas que o reflete por não refletir. Estes seriam os esboços sem cores (ou esboços com falsas cores), um falso artista de sua vida, alienado  por preguiça ou falta de autonomia no pensar. Sem inspiração para colorir a sua vida, este artista apenas copia a moda ou deixa de pintar, vive o esboço mas não a forma completa em totalidade.  E aqui é um ponto a se perguntar: Qual é a alma que não anseia em de desenhar e colorir? A vida anseia o desenho e a coloração, o ato e a potência, a razão e o significado, o ser, presenciar e o vir a ser... a causa final do ser.

A tragédia grega transpõe a necessidade humana sobre a demanda do sentido. Na mitologia temos a perseverança dos heróis no papel e no propósito mesmo sabendo que o final tende ao trágico. A virtude da alma como significado, a marcação feita pela pulsão, Ἔρω” (eros). Afinal, é melhor ser lembrado do que esquecido, não é?  E como ser lembrado? Os gregos sabem sorrir para angústia, porque ela também dá um significado a existência. São artes com finalidades peculiares, paradoxalmente angustiadas e vivas pela angústia (esta que causa o sentido de suas cores). É melhor sentir angústia do que não sentir, não significar. A angústia faz o trabalho certo, ela cutuca a sua arte, questiona seu acabamento, move seu instrumento (pincel) para que possa procurar possibilidades e interpretações e representações (representar minha arte para mim e para o mundo). Os heróis vivem tal angustia com dignidade e heroísmo. Possuem a compreensão do trágico, sofrem pelo trágico, mas ainda alimentam o sonho, sentido e vontade de viver. Mesmo que o sentido não possa existir na forma (porque existe um final trágico determinante) ainda assim, eles existem e permanecem em sonhos. Mesmo que estejam impedidos de pintar seus esboços ainda conseguem pintar a forma pela imaginação, assim a forma vive mesmo que no âmbito do sonhar; o sonho como vontade de vida já significa a vida (enquanto existir) mesmo que não realizado no campo do real.  Sonhar é nutrir a vida, sem sonho não há vida, sonho é pulsão, desejo, alma, intuição, vocação e sentido. O sentido só pode existir porque carrega um sonho, uma possibilidade que gera significado a existência , logo, uma procura pela causa final ( uma coloração, ou razão de funcionamento da peça perante um motor) 

Por estas conclusões visualizamos a grande problemática do ser humano no campo do existencialismo, O mito de édipo por excelência elucida o cenário em uma visão fenomenológica do sentido.  

É possível que nosso herói seja um dos mais mal afortunados de Sófocles comparado com as habilidades de outros heróis como: Herácles, Aquiles, Perseu e Teseu. Ele tinha pés tortos, foi um filho rejeitado e logo cedo inicia a sua história marcado por uma maldição. Um protagonista de uma jornada perdida e determinada por um final soturno e desamparado. Para Édipo, não podemos dar a culpa ou julgamento nos atos percorridos, ele fadava-se ao destino sem a possibilidade de escolhas, que inclusive fez as escolhas para evitar o destino. Uma vida que não acarreta decisões deixa de ser livre por definição. Ele poderia procurar a absolvição pedindo desculpa aos seus atos. Todos sabiam que o caminho deste ser foi trilhado pela intenção justa e íntegra. Sobretudo Édipo vive uma história sem muita performance “heroica” diferente dos outros heróis clássicos.  Afinal, o que o manteve vivo, um ser que sofre um percurso direto ao abismo, infortunado e desgraçado?  É provável que uma das respostas consista na sua capacidade de compreender uma realidade enfadonha e ainda sim dar um sentido particular a esta realidade (mesmo sabendo o final). Neste extremo qualquer ação externa ou metafísica poderia determinar ‘’o ser’’, no entanto, mesmo que ‘’o ser’’ seja agente passivo desta ação determinante; a única coisa que realmente poderia determinar o agente (o ser) é a sua permissão enquanto ‘atribuir sentido’’ e “criar presenciamento” particular desta realidade e interação que o determina. Assim, a atribuição criada pelo ser ( no seu existir, significar e presenciar) ganha uma representação que leva o embate ao destino trágico. O ser pode criar seu próprio sentido como uma projeção única que dê força e significado mesmo havendo uma determinação externa como contraponto. Porque o ser precisa ser o que é para sustentar o seu “ser no mundo”. 

Deste modo, os autores do livro salientam a persistência e o sentido de nosso trágico Édipo durante uma passagem: 

“Trazer para si essa culpa equivale a dizer que ele

não quer ser um fantoche dos deuses. Afastar a culpa

seria, implicitamente, admitir que o homem não conta

nessa história, o que conta é só o destino. 

“Ao sofrer a prescrição dos deuses ele admite a culpa, o que consequentemente não o faz aceitar o destino dos deuses que tentaram determina-lo. Se Édipo transferisse esta culpa ao destino (como uma consequência inevitável) tal ação daria força e razão para os deuses. Como se o destino fosse forte o suficiente para deixa-lo preso, porque ele mesmo não teria autonomia para se conscientizar sobre a falha, já que esta falha se apresentaria algo suficientemente inexorável a ponto de absolve-lo de sua responsabilidade. Esta Responsabilidade pressupõe autoria, conscientização, sentido e significado.  Após ser expulso de Tebas vira um andarilho mendigo, com o passar do tempo se torna um sábio. A continuação da tragédia de édipo acaba em Antígona, sua filha do qual caminhava acompanhado. Chegando em Atenas eles param em Colono. Lá ele pede às deusas para que acabasse com sua jornada por ali" (pp 98)

"Não me hostilizeis

nem ao deus Febo, pois ele proclamou

o meu destino cheio de infelicidade,

disse que este lugar seria meu refúgio,

depois de errar por muitos anos, ao chegar

a este solo onde acharia finalmente

um paradeiro acolhedor, ainda que fosse

para encerrar aqui a minha triste vida"

“Nesse momento de sua vida, Édipo sente-se íntegro de novo: é sua a falta cometida; é sua a infelicidade que dela decorreu; é seu o sofrimento pelo castigo que ele mesmo se impôs. Em tudo isso ele está inteiro, e, agora, mais uma coisa se integra à sua vida: a aceitação de sua não-onipotência. Ouvimos em seu diálogo com o coro” (pp. 99)

‘’Édipo: Sucessão de inúmeras desgraças!  

Coro:  Sofres te!

Édipo:  Sim, males inolvidáveis! 

Coro: Pecas te! 

Édipo: Não! Eu não pequei! (...)

Coro: Matas te!. 

Édipo :  Sim, matei; tenho entretanto... 

Coro : O quê? 

Édipo : Algo para justificar-me

Coro : Mas como? 

Édipo : Digo-te - Quando o matei e massacrei agia sem saber. Sou inocente diante da lei, pois fiz tudo sem premeditação.

“Não afastou de si a culpa, quis responder por suas ações e, agora, aceita também que não sabia tudo, não era onipotente. É quando se aproxima o momento em que será resgatado pelos deuses. Então, senta-se próximo à fenda de uma rocha que era a entrada para o mundo dos mortos. Com a água que suas filhas lhe trazem, lava-se, faz libações e veste-se com roupas cerimoniais. Antígona e Ismene saem quando os trovões começam a reboar. Apenas Teseu permanece com ele [...] A morte de Édipo qualifica-o como herói. Ele é herói porque se recusou a tomar a realidade como única referência. Do contrário, não haveria razão para contarmos esta história até hoje. (pp101)

“Mas o que os deuses homenageiam num herói fracassado, que termina a vida cego por suas próprias mãos? Homenageiam a história, na qual eles não são onipotentes, já que a história é uma questão de significados, é costura, é coisa humana. Significado só pode ser dado por alguém que sonha. (Os deuses não podem sonhar porque são oniscientes; já há um saber, não há risco, e todo sonho é um risco.)”  (pp101)


O Sísifo de Albert Camus


A força do existir é o sentido!  mesmo que este esteja em um percurso estreito. Outro exemplo é o mito de Sísifo com a interpretação existencial de Albert Camus. Mesmo ele sabendo que a pedra voltaria, Sísifo manteve sua existência e presença em ação. Algo o impulsionava, ainda que tivesse que viver as consecutivas repetições de levantar uma pedra que cairia todos os dias. Se a vida é ou nos aparenta como “algo absurdo”, seja por determinação ou qualquer contingencia externa, ainda somos livres para criar nosso próprio sentido em relação a ela. O que faz existir é o sentido, o sonho e a causa final. Quem escolhe experienciar o ser é o próprio ser. O externo só afeta o existir mediante a permissão do ser, o sentido que este ser atribui em reação ao fenômeno externo, o nível de ação e passividade na interação de sua presença no mundo.

“A história não é o somatório de fatos mas sim a busca do que é significativo, de acordo com a possibilidade que a compreensão humana tem, em cada momento, de abarcar a totalidade deles” (pp 97)

POMPEIA, João; SAPIENZA, Bilê. NA PRESENÇA DO SENTIDO: Uma aproximação fenomenológica a questões existenciais básicas. São Paulo,2004

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Estoicismo - A fortaleza impenetrável de compreensão e virtude

 




Estoicismo vem da palavra grega “stoá” que significa pórtico (aqueles que ficam embaixo do arco),  local onde surgem os primeiros pensamentos desta corrente. Fundada por Zenão de Cítio, o estoicismo surgiu no período helenístico, orientado por um pensamento que rompe radicalmente com a ideia de pólis. A pólis que vivia no âmago do cidadão grego no qual se centralizavam as atividades filosóficas, políticas e culturais. Não era mais um princípio para o estoicismo (e outras correntes helenísticas). A verdade não está mais no coletivo, não pode ser alcançada por um coletivo e nem mesmo age ou revela-se sobre ele, mas sim individualmente. A primazia da verdade estoica é o bem-estar da alma, a saúde e o equilíbrio possível e até o distanciamento político. A diplomacia e a tentativa de manter uma pólis organizada pode causar perturbação e tende a ser instável. Como diz de Epíteto: "De todas as coisas existentes, algumas estão sob o nosso poder, outras não”. A sabedoria estoica neste caso, é ter  consciência e maturidade para perceber que a conivência com o sofrimento reside na tentativa de controlar alguém, algo ou o estado. Expectativa, desejo e controle  geram frustração. A pólis significava procurar a felicidade pelo bem-estar comum, no entanto, para Epiteto e outros pensadores não se deve buscar a felicidade fora, mas sim dentro.

O estoicismo teve maior difusão no império romano através de Sêneca, Marco Aurélio e Epiteto e Cícero (que traduziu a filosofia  para o latim). Apesar da linha filosófica acometer na ideia do bem-estar coletivo,  de um estado como uma causa final e não individual. A ontologia estoica entende o mundo gerenciado por um logos (razão universal) ordenado que controla todo cosmos (universo). Tudo que acontece, acontece por uma razão, cada um tem o papel a cumprir, um devir, um vir a ser. O logos é uma matéria sutil que adentra em todos os corpos ligados a experiência. É o cálculo perfeito de forma que, dos menores aos maiores fenômenos; as suas interações em decorrência de fatos são regidas por esta razão. Há um nível colossal destes fenômenos se comparado ao indivíduo; tendem a incompreensão dos limites de uma mente humana, tal como a φαντασία (phantasia) que gera a impressão ilusória da realidade. Já a impressão da mente é denominada φάντασμα, phantasma (fantasma), significa “aparição de coisas extraordinárias, fontes de ilusão e imagens sem consistência. Ilusão de ótica".

É natural do ser humano julgar o certo e o errado, e muitas vezes a impressão errônea curiosamente corrige-se em um jargão popular: “o mundo não gira em torno de você”... mas você gira em torno do mundo, maior que você e maior que a sua mente. Diante da imensidão do universo, seria presunçoso julgar o acontecimento dos fatos como justos ou injustos. A injustiça é injusta para os olhos humanos, mas para o logos, o todo tem um papel no universo. Observar os fatos com amplitude, entender o sentido dos acontecimentos diante do devir, tal compreensão sobre as interações da vida, para os estoicos é chamado φαντασία καταληπτική (Phantasia Kataléptica). Significa a procura de uma representação fidedigna, com que grau conhecemos, e se estamos conhecendo realmente. É a percepção da realidade como tal, de  modo que, ainda, sim, percebe-se em uma pequena fração, uma amostra por uma da cópia da verdade.  Para isso existe o termo  "anima mundi" do latim (Alma do mundo) em grego ψυχή τοῦ παντός (psychḗ tou pantós) é um conceito cosmológico geral, mas contém diversas conotações por linhas filosóficas e até mesmo escritores literários. Para os estoicos é o lugar do próprio cosmos, arché (essência) ou princípio fundamental da vida e força vital que insere os papeis, ações e interações para criar o equilíbrio e harmonia. A alma é integrada a esta força e inseparável dela,  no qual o universo e o divino se manifesta.  

Há uma figura um tanto peculiar neste meio filosófico, Marco Aurélio da dinastia nerva antonina (Os cinco bons imperadores, segundo Maquiavél) foi estoico e escreveu em seu diário experiências pessoais, carregadas de filosofia e auto-entendimento. Tais anotações resultaram um livro chamado “meditações”. O fato é que o estoicismo era um solo fértil para o império romano, mas seria legítimo um imperador responsável por um estado imenso, pela opinião pública e por interações coletivas praticar o estoicismo? Sim. Marco Aurélio elegido a imperador, tem este papel no universo, procurava agir de acordo com as leis do logos. Vale ressaltar que para ele o domínio e o controle sobre Roma não seria objetivo, mas de fazer o melhor,  o correto e agindo no que é possível.  Reconhecendo que a sua felicidade e o seu equilíbrio interno é o precedente que permite a execução de funções políticas de maneira virtuosa. O estoicismo é conveniente para Roma no sentido de justificar a existência de um império porque há uma razão para existir, e até mesmo justificar as injustiças de um império.

Em relação aos papéis, a vida é como se fosse um teatro, o diretor é o logos, o teatro é o cosmos e os atores, são os protagonistas da vida que se submetem ao diretor. A função do homem então é atuar o seu papel da melhor forma, há um certo naturalismo determinista na distribuição destes papéis. A ἀρετή (areté - virtude moral) estoica demanda uma compacticidade do ser com o logos. É a sintonia, que em sua etimologia, do  grego Syn-tonos que significa força-igual, força-junto. É seguir a lei natural no justo e injusto que se apresentam. Há uma obrigação moral para o cumprimento do cosmos, a reta razão (essência de virtude ou justo meio)  exprime a obrigação de não se corromper pelos vícios, assim como a Ἀταραξία (ataraxia) traduzida como ausência de inquietude ou preocupação. Ceder aos vícios e desejos é fugir, negligenciar e negar as adversidades da vida.  A não aceitação e o não comprometimento além de corromper a saúde e moral do indivíduo  se opõe ao logos que apresenta os desafios, adversidades, perdas e sofrimentos por uma razão maior. Há um comprometimento com o chamado do logos para sua função que deve submeter-se ao dever. A palavra εὐδαιμονία (eudaimonia) felicidade e bem-estar cunhou ao estoicismo um significado com a máxima “viver de acordo com a natureza” o estoicismo. Sabedoria prática da vida, a φρόνησις (phronesis) significa prudencia ou sabedoria mencionada em Aristóteles.