domingo, 15 de agosto de 2021

Ong Back - Sombra e o Yin Yang

Ong back 2 e 3 aplica muitos conceitos do budismo e da Psicanálise Junguiana.

Relata a história de um dos guerreiros mais habilidosos de sua época, chamado Tien, ele é movido por vingança. A morte de sua família cria uma única razão para sua existência.

Seu modo de luta é agressivo, impaciente e impulsivo. As coreografias do filme são muito bem trabalhadas neste aspecto.

É interessante ver o ciclo de samsara do protagonista se repetindo, quanto mais ele luta por essa motivação de vingança, mais lutas, e mais lutas sem um fim. Ele está sempre cercado por raiva e violência. Um dos infernos do ciclo do samsara, são os guerreiros que estão condenados a lutar eternamente, morrendo e voltando.

Representação da sombra

Em um certo momento Tien acaba perdendo a batalha pelo "Crow Ghost" (Corvo fanstasma) o seu maior adversário que também representa a sua sombra. Crow Ghost tem o mesmo estilo de luta de forma ainda mais selvagem e maligna, com poderes sobre humanos e magias negras.

A questão aqui retrata como lidamos com nossas sombras, sendo um grande enigma para estrutura psíquica de cada um. Tien no caso usa  o lado sombrio, mais a sombra sempre foi mais forte que ele que o "self"(ele mesmo). A sombra é um elemento que esta ligado com os impulsos inconscientes do ID.



Yin Yang e sombra

Não podemos negar a sombra porque ela vive dentro de nós, a forma mais saudável é  conviver saber lidar, aceitar mas não ser dominado. Converter essa energia em uma força que trabalhe conosco, não contra. A sabotagem é muito visível nos ciclos repetitivos que produzimos na vida de forma inconsciente, seria este o ciclo de sofrimento da roda do samsara. Por isso temos o símbolo do Yin Yang sendo sombra e luz o equílibrio ideal para ter uma vida esclarecida e controlável. Não podemos negar nossos impulsos mas podemos convertê-los em força de forma que esta, não prejudique nosso ser.



Derrota e união

Tien perde a luta, acaba sendo pego pelos guardas. Neste momento tem uma perspectiva budista o pagamento do karma de toda violência produzida pelo protagonista. Ele acaba sendo espancado quase até a morte. Mas morrer seria um caminho muito fácil. Eles quebram todos os membros de Tien impossibilitando-o de lutar. 

Ainda sobrevivendo, aos cuidados de sua irmã e do mestre Bua (monge budista) , Tien fica por um bom período em estado de frustração pela incapacidade de cuidar de si e de se defender. Aqui observamos uma fase  presente no monômito ( a jornada do herói). Toda jornada tem um mestre  como figura de mentor e também temos uma fase do heroi de fragilidade, fraqueza e incapacitação. As fases mais difíceis presentes na vida de qualquer um. Admissão da perda, seja ela em relação a sombra ou em relação a vida. Tien dava "murros em ponta de faca", estes murros o impossibilitaram ele de usar as mãos.


A prepotência e o egocentrismo é algo muito forte que a sombra traz consigo. A ideia de não precisar se ninguém é um recurso de sofrimento que a vida ensina dando os famosos "tapas na cara". No caminho do aprendizado, quando estamos na perda trabalhamos a humildade e aprendemos que vivemos em sociedade. Muitas vezes iremos precisar de um amigo ou mentor, abrindo mão do ego para aprender e depois sozinho mas em parcerceria,com respeito, compaixão e humildade. O herói jamais conseguiria terminar a jornada sozinho.


Estado de loucura e desistência

Dominado pelos venenos mentais da sua incapacidade ao propósito do guerreiro, Tien resolve se suicidar em um precipício. Neste momento vemos um outro arquétipo presente na jornada do herói, a figura do louco. Este louco pode ser tanto uma pessoa externa quanto uma representação interna da nossa estrutura psíquica. A insanidade também é um lado da sombra. 


Quando Tien pensa em se jogar, o louco aparece representando um símbolo do estado mental do personagem. O louco pensa em se jogar junto e depois da um passo pra trás, dizendo a Tien "Melhor não aqui não é legal, vamos embora". "Você quer se jogar de joga vai, eu não vou não" O louco nas cartas do tarô por exemplo, é a primeira carta e geralmente aparece como um louco à beira de cair em um abismo. O abismo significa o desconhecido, a escuridão do inconsciente.


É preciso ser louco sim, no sentido de ter ousadia, perder o medo e usar essa insanidade como uma construção arquetípica de renovação e embarque na aventura. A aventura de um heroi seria uma loucura. Ou seja para estar vivendo e se aventurando sem saber o resultado tem que ser meio maluco. Grandes cientistas descobriram coisas que na época era considerado maluquice, loucura e insanidade. Mas o louco carece de uma atenção e de um trabalhado cauteloso.  Ponderamento da insanidade não é muito diferente na condução pela sombra. Não podemos ser dominados pela loucura, mas temos que ter um pouco dela. Para quem tem interesse nesse assunto indico o livro do filósofo Erasmo de Roterdã,  "O elogio a loucura".


Neste momento o Monge Bua aparece com palavras sábias, diretas e precisas:

               O louco, o mentor e o Herói

"Até um louco como ele não se jogaria deste lugar"

"O seu nome Tien significa luz de vela, é a luz da razão que dissolve as trevas. Agora olhe para baixo, você ja pode enchergar sua própria sombra. Se você tem medo das sombras que o perseguem, precisa ter na sua mente que se há sombra ela só existe porque existe a luz. Busque a solidão no templo para meditar. Os espíritos do yang lhe trarão em segredo a iluminação"


O isolamento e autoconhecimento


Aqui encontramos a fase do Herói em isolamento. É uma parte da jornada de autoconhecimento meditativo. O caminho é revelado e direcionado pelo mentor, mas ele só se completa se há uma determinação do herói. Tien procura uma caverna para meditar de forma que aprenda a lidar consigo mesmo, com sua sombra e sua dor. Nesta caverna ele descobre um método para poder curar suas torções e sua incapacidade. Lembrando que a incapacidade não é só física ela representa algo muito mais simbólico e metafórico ligado a incapacidade da vida.


Entrando na Luz - Ânimus e Ânima

Em sua última fase, já com esclarecimento melhor de si, ele precisa aprimorar suas técnicas e entra em fase de treinamento. Esta parte é muito interessante porque a única forma dele enfrentar a violência é entrando em contato com o seu lado feminino.

Tien quando era criança foi forçado pelo rei (seu pai) a treinar a arte da dança e nesta idade já era um garoto que queria estudar artes marciais com "sangue nos olhos" dizendo ao seu pai que isso não ajudaria ele a se tornar um grande guerreiro. Então ele compreende depois a importância da dança feminina na aplicação da luta. Os movimentos são mais sutis, leves, calmos e precisos. Isso tira a necessidade do lutador de se movimentar em grande escala, com menos movimentos, mais flexibilização e precisão. A irmã então ensina a dança e o personagem trabalha sua anima (1- singificado no final do texto)

Elemento água - purificação

Tien diz "As artes da dança me ajudaram a controlar o corpo e a meditação minha mente" agradencendo eternamente ao seu mestre.

 O mestre aplica fala sobre o trabalho do elemento água, que tem uma relação simbólica de purificação e fluidez:


"Permita que seu espírito corra livre como um rio, o espírito é o lider e o corpo é o soldado"


Término da jornada

O estilo de luta de Tien muda completamente, sua sabedoria e luz ânima agora estão unidos em um único ser. Agora o Tien tem capacidade para lutar contra seu adversário e o herói já esta pronto para luta final.


Animus e Anima

"A anima compõe a totalidade das qualidades psicológicas femininas inconscientes que um homem possui e o animus as masculinas possuídas por uma mulher"

"Para que a personalidade fique bem ajustada é necessário um equilíbrio entre anima e animus, ou seja: o lado feminino da personalidade do homem e o lado masculino da personalidade da mulher devem ser integrados ser expressos na consciência e nas atitudes."

domingo, 8 de agosto de 2021

Mídia - Azul para meninos, Rosa para as meninas? Tem certeza?!

Quem sou eu?

Gosto de notificar, faço homem enxergar, crio ilusões para ele acreditar, faço de tudo para me atualizar, sou a moda a venerar. O que sou?

(Barão d'Holbach no século 18 ultilizando Rosa, sendo na época uma cor associada aos homens)

Criticar a mídia é clichê e estamos cansados de ouvir estes discursos batidos né? Lá vem o jovem rebelde, o artista contra-cultural. Perdeu um pouco de força talvez por conta da falta de "escavação" do fenômeno que incomoda. Por ser muito óbvio a intenção "influencer" mercadológica-cultural da mídia de alienação, estes assuntos na roda de amigos fica batido, com bordão. 

Enfim, sobre a mídia alienadora - muitos sabem, mas poucos procuram saber do que sabem."Ir a fundo" nestes assuntos são para poucos e esperamos que cheguem a muitos!

OBS : (Palavras com numeração tem o significado no final do texto )

Sobre a mídia segundo a escola de Frankfurt.

Thodor Adorno foi um filósofo alemão que desenvolveu uma reflexão minuciosa sobre a mídia televisa por volta de 1962, junto ao seu amigo Horkheimer. Para eles a indústria de massa não é considerado uma indústria cultural, porque a ideia de cultura tem como primordial a autenticidade. A cultura é um berço de conteúdos filosóficos (visão de mundo),estéticos(arte), históricos (reação de um grupo cultural). No conteúdo histórico podemos observar claramente o discurso do materialismo histórico Marxista. 

Neste aspecto muita coisa me parece plausível, contudo não concordo com o coitadíssimo presente em Marx, mas devo reconhecer que houve uma deturpação e desfiguração de grupos culturais. Estes ficariam refém de um sistema cultural predominante, seja pelo canal midiático ou não. O sistema define os valores éticos e morais criando uma separação daqueles grupos culturais que não compactuam com ele. Existe uma certa "coerção social" [Durkheim¹] . A coerção tem um histórico de ocorrências no flagelo das camadas ambientais, sociais, psicológicas e econômicas destes grupos culturais.

Logo deduzimos que a idéia de indústria de massa é criada com proposito de fins lucrativos, muitas vezes mascarado por um conteúdo que parece ser educacional. São conteúdos educacionais em um sentido unilateral, educam através de um sistema de regras e limitação de valores, gerando aversão a [alteridade²]. 

Autenticidade, roubo cultural e deturpação.

Não pode ser definido como cultura aquilo que não é originário. A mídia sempre vem em segundo plano, porque ela é uma reprodução de uma produção, uma ação cultural que produz. É necessário um primeiro elemento( cultura) para que venha o segundo elemento midiático. A divulgação midiática precisa de um material, este material é emprestado da cultura que através dela, acaba sendo modelado e divulgado pela mídia. Muitas vezes a reprodução(mídia) do original (cultura) acaba sendo deturpado de forma proposital ou não. Podemos afirmar que esta reação em cadeia carrega um "roubo cultural", seja ele com a finalidade de lucrar e entreter, ou para criar opiniões hostis sobre determinado grupo. E o mais interessante que esta hostilidade não é produzida de de forma direta, ao contrário, é sutil... como? usando estereótipos, alterando arquétipos e atingindo o espectador em níveis subconscientes.

Exemplo 1 - Latinos


Por eu gostar muito de filmes latinos (diretores como Buñuel e Almodóvar) vejo que existe uma abundância cultural na forma como eles encaram o mundo. Filmes de arte latinos encanta qualquer alma dotada de visceralidade e mostra um pouco o comportamento e o estilo de vida intenso deles. Existe um graaande estereótipo produzido por hollywood que impede muitas vezes que as pessoas  conheçam outras culturas. É nitidamente claro que este estereótipo tem uma finalidade política sugestiva por trás, porque americanos são nacionalistas por natureza, seletivos e tem complexo de superioridade. Eles tem um histórico de aversão a imigrantes latinos : bolivianos, peruanos, brasileiros, mexicanos, chilenos e colombianos. Nem todo latino é pobre e imigrante ilegal que aparece para trabalhar em serviços secundários. O que mais vejo são as latinas nos filmes trabalhando como faxineiras/empregadas e amantes. (Não cabe a mim entrar em papo de sexulização, seria hipócrita neste aspecto)

O que me entristece é ver o discurso americano afetando com suas opiniões escrotas pessoas e culturas da nossa própria região America-Latina. Vejo muitos brasileiros praticando preconceito contra bolivianos e peruanos.

Exemplo2 : Índios

Particularmente sou um admirador da cultura e religião indígena, o xamanismo é pouco conhecido entre a massa, então pode ser facilmente deturpado. Eu não me recordo o nome do filme mas é um filme americano de comédia romântica (com uma atriz famosa-inexpressiva-que-não-fede-nem-cheira-e-faz filmes-fúteis-de-massa). No filme ela esta observando uma senhora fazendo um ritual xamânico na floresta. Eles ridicularizam a senhora que supostamente estaria associada como a pajé/curandeira/xamã. A dança no filme ressoa como algo tosco,primitivo e esquizofrênico. Usando um discurso no filme que no Brasil também escuto muito entre pessoas alienadas "Você faz a dança da chuva? , coloca a mão na boca fica batendo nela e gritando ololololo". O xamanismo tem muito mais profundidade do que isso.


Exemplo 3: Vikings - ok eu gosto da série Vikings e assisto, mas os nórdicos são vistos apenas como sanguinários e gostam de sexo e de beber. O conhecimento sacerdotal e religioso do paganismo nórdico carrega muito mais profundidade do que isso. Eles também eram excelentes agricultores, escultores, artistas entre outras características.



Exemplo 4 : Deus Pan - Pan é um arquétipo utilizado em muitas religiões pagãs. Podemos ver deuses semelhantes nas religiões. Para quem tem interesse em se aprofundar no assunto eu recomendo o livro "O Heroi de mil faces" e "O poder do mito" de Joseph Campbell (mitologista e estudo de religião comparada). Este Deus foi injustamente satanizado pela igreja católica na idade média, satanização que até hoje reverbera na mídia em desenhos animados, filmes e mídias de massa. Eles associam qualquer figura com chifres e transmórfica de bode ao elemento do mal, do medo, desejo e proibição. A mídia então cria uma preferência religiosa doutrinando pessoas e satanizando figuras sagradas de outras religiões.

Sendo assim a mídia não cria, ela recria se embasado em matérias e elementos já existentes na cultura e em grupos culturais. A mídia num geral é uma repetição de discursos, valores e sonhos e ideais de viver. Para Adhorno e Horkheimer a indústria da cultura chamada de arte cria um sistema coerente entre sí, para mercantilizar que [Reifica³] a cultura  deixando de ser um espaço de emancipação do homem. Sendo a arte e a cultura tendo como alicerce a diferença, originalidade e emancipação, algo que tira a alienação.


Azul para meninos, Rosa para as meninas 




Este é um exemplo do quanto somos manipulados e enganados pela mídia. Por mais que você queira desassociar esta ligação de azul masculino rosa feminino, ainda vai reverberar no seu subconsciente a maldita associação. 
Vamos falar de história, em 1918 uma revista de moda infantil americana, Earnshaw disse "A regra geralmente aceita é que rosa é para os meninos, e azul para as meninas. O motivo é que o rosa, sendo uma cor mais decidida e forte, é mais apropriado para meninos. Enquanto o azul, que é mais delicado e gracioso, é mais bonito para a menina." 

Gavin Evans, especialista em cores o azul sempre foi associado à Virgem Maria por constituir elementos de delicadeza,suavidade e fluidez. O rosa por ser uma cor mais quente, ligado também ao vermelho é assciado a algo mais energético, representando força, intensidade e peso. A segunda guerra mundial fez o cenário mudar de contexto. Em 1920 e 1950 os Estados Unidos deram um salto em termos de industrialização, isso mudou o cenário de produção. Por motivos mercadológicos o azul começou a ser comercializado pelo varejo como a cor ideal para homens e as marcas de moda ajudaram convencendo a idéia do rosa ser uma cor mais delicada. Isso ecoou os desenhos animados, meios midiáticos impressos e televisivos.

Conclusões finais e posicionamento

No cenário cultural, artístico e expressivo sou obrigado a concordar com a corrente marxista. Já no cenário econômico não. Mas todas estas observações devem ser absorvidas com moderação, pois ao mesmo tempo entra em um discurso politicamente correto de respeito cultural que no extremo ficaria intragável. Estas nuances são complexas. Deixa uma linha muito tênue entre verdade e militância fanática. Não acredito que há um sistema politicamente correto para retratar e respeitar os grupos chamados de "oprimidos". Muito menos que grupos culturais são oprimidos da forma como defendem. Há uma coerção, mas não há coitadismo comigo não...

 1 - Coerção : Conceito criado pelo Sociólogo Émilie Durkheim. "Forma de pensar e agir moldada conforme o que a coletividade" Fonte : https://www.significados.com.br/coercao/.

 2 - Alteridade :"Alteridade é um substantivo feminino que expressa a qualidade ou estado do que é outro ou do que é diferente. É um termo abordado pela filosofia e pela antropologia" Fonte :https://www.significados.com.br/alteridade/"

 3- Reificar : Encarar (algo abstrato) como uma coisa material ou concreta; coisificar. Transformar em coisa; dar o caráter de coisa. Do latim res: "coisa"; em alemão: Verdinglichung, literalmente: "transformar algo em coisa" ou Versachlichung, literalmente: "objetificação") ou coisificação é uma operação mental que consiste em transformar conceitos abstratos em objetos ou mesmo tratar seres humanos como objetos.