Há uma certa preparação para ouvir um tipo de oração.
É uma meditação sutil, ouvimos as batidas de um coração febril.
A dança ocorre, o barco... balança.
A oração afortuna aqueles que se desconfortam, porque estes reparam... os males que comportam.
A verdade é revelada pelos sentidos, apurados pelo mar... este... capaz de levar e elevar.
O desequilíbrio... é um passo para o marinheiro aprender a remar.
As vozes da natureza ressoam no íntimo, em um momento silencioso e nítido.
Começando pelo arrepio da derme, vem a vibração do espírito, onde tudo lhe cabe, onde tudo lhe serve,
onde tudo discerne.
A água revela, limpa e divide a verdadeira da falsa natureza.
A senhora da destreza, a água é a velha mãe sábia natureza.
Neste ambiente não se deve contaminar, nem se afogar, mas sim se limpar.
Se quero enxergar, a cara limpa é necessária. . .
A mística sempre esteve a me revelar
Nunca seja desonesto, porque as sereias do desejo, afundam o seu molejo,
como forma de protesto
A desnudez da alma entende a essência do ser, aquele ser que merecer.
O não ser, cabe-lhe afogar e lidar com as profundezas do mar.
Caso haja uma conversa interna, caso ouça lições de uma voz materna, a
oração do mar é onde o espírito se deleita, onde a paz à espreita.
O silêncio é a voz do mar, onde se acalmam os gritos do espírito quando as ondas vão quebrar.
Água, sangue da terra.
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Hermenêutica ( Teoria do estudo da interpretação )
Aplicando hermenêutica cruzada
"Há uma certa preparação para ouvir um tipo de oração’’
A oração tem um aspecto sagrado e místico, estar pronto para
ouvir é educar a psique humana e também criar experiências, visto que o cérebro
tem padrões e condicionamentos fixados em redes neurais. Uma das formas de gerar a neuroplasticidade e novas sinapses é viver o momento presente, contemplativo que se abstêm do julgamento. Ouvir, entregar, flexibilizar é um ponto de partida
para que as novas experiências sejam incorporadas. Só é possível ouvir a
oração quando preparado para receber, interiorizando e não exteriorizando.
‘’A oração afortuna aqueles que se desconfortam, porque
estes reparam ... os males que comportam’’
O processo psíquico de entrar em contato com novos meios de experiência muitas vezes gera desconforto, a ideia é transpassar essa barreira relembrando a
dor e as dificuldades que se repetem. Reforçar o porque você esta procurando é potencializador de motivação para se
libertar.
“O desequilíbrio... é um passo para o marinheiro aprender a
remar” –
Desequilíbrio é o
choque que ocorre quando há uma nova informação e experiência. Aprender a remar
é adaptar se com o inédito, a psique estranha e tende a
rejeitar, como um leigo aprendendo um novo ritmo. Com uma fonte de inspiração
platônica, a segunda navegação que Platão aborda é um rompimento com as primeiras linhas de pensamento dos filósofos naturalistas \ pré socráticos. Navegar é a metáfora que se refere ao pensador. Ele é o marinheiro que tem o entendimento e execução do barco, tentando descobrir o desconhecido (novas terras)
“As vozes da natureza ressoam no íntimo, em um momento silencioso
e nítido. Começando pelo arrepio da derme, vem a vibração do espírito, onde
tudo lhe cabe, onde tudo lhe serve, onde tudo discerne” –
A introspecção analítica
necessita de um presente muito real, real para si. Inspirado em Heidegger, há
também uma experiência mística de ordem fenomenal quando a análise interna é
vocacionada ao lado sagrado “hermenêutica configura-se ao ser-aí como uma
possibilidade de vir a compreender-se e de ser essa compreensão” (HEIDEGGER,
Martin. Fenomenologia da vida religiosa Petrópolis: Vozes, 2010.)
‘’A água revela, limpa e divide a verdadeira da falsa
natureza. A senhora da destreza, a água é a velha mãe sábia natureza. Neste
ambiente não se deve contaminar, nem se afogar, mas sim se limpar. Se quero enxergar, a cara limpa é necessária.
. .’’
Aspecto semiótico dos elementos da natureza, a água é o elemento da emoção e da transparência que limpa e desdobra o que é, do que não é. A agua separa elementos falsos do ser. A segunda etapa é o fogo que transmuta e e faz a ascenção. A agua limpa o interior para o fogo elevar o exterior de um eu verdadeiro. Mudança harmoniosa , ascensão clara.
‘’A desnudez da alma entende a essência do ser, aquele ser
que merecer. O não ser, cabe-lhe afogar e lidar com as profundezas do mar. Caso
haja uma conversa interna, caso ouça lições de uma voz materna, a oração do mar
é onde o espírito se deleita, onde a paz à espreita.’’
Sereias do desejo, uma referência a Odisseia. As sereias são a representação dos impulsos e desejos inconscientes. Odisseu amarra-se no mastro para não ceder aos impulsos obscuros do mar. Significa proteger-se de si mesmo, esse simbolismo denota a capacidade de auto avaliar (Heidegger) impondo limites nocivos. Lembremos que toda natureza tem seu aspecto sombrio, e a escuridão do mar é o mais profundo instinto de emoções que podem afogar Odisseu. O molejo representa autos sabotagem e autoengano, é um processo que a sombra no subconsciente encontra para se emergir e dominar. Uma justificativa para decidir errado, o molejo é a “malandragem” que a pessoa faz consigo convencendo-se que tem o controle e que pode “dar um jeitinho” e ainda se sair bem. A vontade sexual da qual você sabe que arriscaria, é insano e impossível ter um ato sexual com uma sereia, porque é um monstro e claramente é uma armadilha, assim como Odisseu foi avisado. Para os gregos as condutas são muito claras, como podemos entender a palavra eudamonia de Aristóteles.
Não muito distante da nossa realidade, Homero e Hesíodo já
relatavam os problemas de emoção, desejo e ilusão. Você ama alguém, sabe que perigoso ou impossível e se entrega ao canto fictício da sereia.
“Caso haja uma conversa interna, caso ouça lições de uma voz
materna, a oração do mar é onde o espírito se deleita, onde a paz à espreita. “
Novamente a conversa
interna é a autoanálise, “pratos limpos” abrem espaço para o novo ser, que já é,
mas que não veio a ser. Não é possível ser outro, a mudança não incorpora outra
personalidade. Parmênides afirma “O ser é todo inteiro - se o ser tivesse
partes, algo nele seria separado, não fazendo parte do ser” “o ser é, o não ser
não é” uma frase que a princípio óbvia, mas a mensagem paradoxalmente complexa.
A personalidade nossa é fixa. Mudar a si não é ser outro, mas remodelar, criar sinapses que descobre novas formas do eu que não foi explorado. A versão aprimorada de si, no oculto que agora é emergido.
“Caso haja uma conversa interna, caso ouça lições de uma voz
materna, a oração do mar é onde o espírito se deleita, onde a paz à espreita”
Voz materna carrega o arquétipo da “Anima” do psicanalista Carl Jung, anima é o lado feminino inconsciente do homem, sendo um tabu para os homens com medo de perder a virilidade. Para ocorrer todo processo desta hermenêutica é preciso trabalhar o sentimento, parte do universo feminino, a água é delicada, fluida, misteriosa, independente e seletiva. Quando você joga água sobre a mão aberta, grande parte do líquido cai, mas alguns resquícios ainda ficam na mão e absorvem a pele. Isso é a capacidade de decidir e selecionar. Característica presente no universo feminino, quem escolhe e decidi os laços amorosos é a mulher (claro com exceções). Toda decisão correta a tomar demanda transparência que carece de emoção honesta, escolhe e absorve como a água. Quando é falso a água solidifica, vira gelo. Caso a água sofra de um fogo (masculino) dominador e sobreposto desenfreadamente, evapora.
“Água, sangue da terra”
A água é o pulso vital, o sangue que corre dos seres e a
terra é o corpo, a estrutura, o equilíbrio e ancoragem que possibilita o elemento líquido transbordar.
Curiosidade: No folclore romeno a figura o strigoi” (romano
strix, latim “striga” pássaro que grita em nome da vítima) conhecido como vampiro;
não poderia atravessar um curso de água corrente, pois será enfraquecido, sugado
e aprisionado por ela, podendo ficar sem saída até o amanhecer. Em algumas
versões essa criatura tem o risco de extinção caso olhe para o seu reflexo na água,
ocorre um choque do antinatural ao encontro do elemento natural, revelando o
profano, extinguindo o falso.